A avó veio buscar comida, antes que o sol
parasse de latejar. O sangue da avó
não parava de chegar, e permanecia rascunhando
na pedra os animais do presságio.
A avó mantinha a cabeça sempre para frente,
e abençoava os farrapos que resistiam a apodrecer.
Um dia ensinava canto às corujas. E logo
ressuscitava o encanto das alegorias sacrificadas.
Treze crianças continuavam dançando
enquanto o mistério passava de mão em mão.
O que a avó teria entalhado em sua face,
para que dali não saíssemos jamais?
Que engendro terá deixado passar sem antes
acentuar seus fulgores na pedra de seu coração?
A avó sempre nos dizia que o mundo precário
afugenta os milagres e crê no perdão.
Floriano Martins
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