Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há trinta
anos em mim,
Roubada de algum infindável e
inefável
Verso escuro do Universo,
Está seca, no fundo da vasilha.
Porém, ambas são infinitas,
Como o âmbar das baleias
Para os economistas japoneses...
Minhas lágrimas são de mitos solidamente
reais
E de realidades imaginadas
Por redes neuronais americanas
Alimentadas por solidário
sarcasmo coreano.
Meus pesadelos têm capa de sonho.
Por isso, nem eu mesmo me digno a
pesquisar
Essas páginas amareladas
Que compõem meus pensamentos,
Meus pobres pensamentos
Que agora são comida
Das Traças dos Sentidos...
O tratamento futuro emudece e se
amorna,
Enquanto o horror toma a incrível
forma
De um câncer cordial de lorde
inglês.
E é por isso que, agora,
emociono-me até ao ver
O Jornal Nacional
E ando a achar sentidos até na
mais sensata estupidez,
Como quem ri da piada da
televisão,
Enquanto a função mute está
ativada
E os olhos virados para o vaso em
cima da mesa...
Minha loucura tira nota dez no
colégio.
Sequei.
Sei como conduzir a vida,
Mas não tenho carro.
Esqueci a direção,
Não tenho direção para apoiar
As emoções e as mãos
E meus pés continuam teimando em
pisar
O escarro e o barro
De estradas esquecidas por
asfaltos.
Prefeitos e respeitos com ares
rarefeitos
Continuam vindo do alto.
Porém, aqui em baixo,
Na Idade Média da minha Viamão,
Meu mundo ainda continua
desfeito,
Sempre vivendo o mesmo fim...
E o mal estar prega-me peças no
crânio
Com pregos de 18 polegadas!
Também concordo contigo, meu
amigo:
Se pudesse conscientemente
confundir o joio com o trigo
E endoidecesse deveras...
Seria só mais um ninguém que é só
mais um alguém
Dentro de um quarto,
Ocupando um lugar e um momento
No espaço e no tempo,
Embora esteja em outro momento e
em outro lugar
Misteriosamente fora do tempo e
do espaço,
Jogando Texas hold’em com as
divindades...
Mas não: eu também moro no
apartamento do Entre,
Nos espaços que formam os espaços
E vivo a vida naquele momento
metafísico
Entre as passagens dos segundos.
Somos dois internados em
manicômios sem manicômios
Mas tu, pelo menos, tinha tu em
heterônimos...
Enquanto eu, eu só tenho
sociedades anônimas
No meu cérebro...
E como queria que fosses nosso
acionista majoritário!
Não preciso de geladeira para meu
sorvete cerebral,
Resolvo equações matemáticas na
praça da cidade,
Não reconheço mais a música da
moda,
Mas visto as mesmas calças jeans
que os outros.
Também durmo e sonho desperto
E minha loucura também é feita
De paradoxos semânticos.
Mas não invoco a pena da velha
casa
Nem da infância.
Pois ela ainda está aqui,
cercando-me,
E eu já era louco, ainda que não
soubesse.
Mesmo que tivesse tido religião ─
como de fato tive! ─ ,
Não teria tido realmente
religião,
Porque o pensamento puro não tem
nada,
Não sabe nem mesmo sua própria
biologia.
Por isso que nenhum manipanso
conseguiria
Ajudar-me: nem Jesus, nem Zeus,
Nem Amaterasu Oomikâmi,
Nem a humanidade, nem aquele
estranho mito
Daquele deus antromomórfico vindo
de África...
Não vejo mais nenhuma divindade
nem naquilo em que sê crê...!
Mas o tudo ainda é, sim, o que
pensamos de tudo
E é por isso que eu sempre
repinto, todos os dias,
Meu coração de vidro, que nem o
teu e o do Sérgio Sampaio!
André de Castro
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