Então eu disse: noite.
E a lua luziu nas tuas pupilas.
Terra. E teus braços se
confundiram com as árvores.
Como um aboio, me chegaram as
lembranças remotas.
Eu tive ódio das coisas
porque elas passam. E pena dos
pássaros
porque eles são breves.
Na verdade eu preservei,
num baú chamado saudade,
um rosário de contas da infância.
Toda vez que a vergonha me cora,
eu saco uma reza, um chaveiro, um
relógio quebrado.
A memória é um país para onde
voltamos
quando chove a cântaros. E o
tempo é um espaço
onde é bom se perder.
Tenho dois medos na vida
(o medo é um canto):
não te identificar
quando voltares da rua na última
tarde;
desconhecer-me quando fitar no
espelho meu último olhar.
Então eu disse: noite,
terra estrangeira, suspiro de
pomba, rastro de áspide.
E tudo se refez intacto. E no
fundo da escuridão antediluviana
eu reconheci os meus olhos
nas tuas pupilas insones.
Otto Leopoldo Winck
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