quinta-feira, 6 de dezembro de 2018


A única maneira de falar de amor
é não falando: como falar de um vaso que se quebrou?
De um caminho sem retorno? De um gato agonizando?
Não, as palavras são excessivas. Ou parcas.
As palavras mentem, as palavras seduzem, as palavras ludibriam.
Fiquemos sem as palavras, essas putas.
Fiquemos com o silêncio
carregado de anjos e presságios,
fiquemos com o vazio
que mais se aproxima da perfeição
e da beleza do nada.
Ou então:
a única maneira de falar de amor
é blasfemando: malditos sejam todos os que amam
pois o inferno é deles.
Horas de vigília, de taquicardia, de alucinações...
O amor é um cão ganindo, uma lua menstruada,
um colchão puído no andar de cima de um sobrado em construção.
Malditas sejam todas as palavras
e Deus
que criou o mundo com as palavras de sua boca.

Otto Leopoldo Winck



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