1- Amigos, certa vez, o Otto Lara Resende recuou três
passos, avançou outros três e declarou, de fronte erguida – “O mineiro só é
solidário no câncer”. Julgamento, como se vê, extremamente amargo e, eu diria
mesmo, crudelíssimo. Mas um mineiro que fala dos mineiros tem cem anos de
perdão. E o meu amigo nasceu lá na montanha.
2- Fiz a reflexão acima para concluir – eu não sei se o
resto de Minas “só é solidária no câncer”. Outro mineiro, como o Otto, que
confirme ou negue. Mas eu sou um vago pernambucano. E posso dizer que Muriaé,
pelo menos Muriaé, não tem nada a ver com a frase citada. Muriaé é solidária,
não só no câncer, mas em tudo o mais. Não há cidade mais solidária, e doce, e
fraterna, e lírica e brasileira. Aí está dito tudo – Muriaé é brasileira de
alto abaixo, brasileiro nos seus costumes, sentimentos, idéias. Eis uma terra
embebida da bondade de nossa gente.
3- Eu estive lá, sexta e sábado. Ia-mos, a Viúva Mario
Filho, eu e minha esposa, Lucia, assistir à inauguração dos “Jogos da Primavera
Mário Filho”. O Professor Marcos Coutinho Loures, uma admirável figura, batera
o telefone para min – “Não falte”. E repetiu – “Não falte”.Amigos, eu estava
devorado pelas minhas obrigações profissionais. Mas como resistir a uma
convocação de Muriaé?
4- Fui e vi a abertura dos “Jogos de Primavera Mário Filho”.
E uma coisa eu quero dizer- eu atravessaria três desertos para viver a mesma
experiência. Chegamos lá e fomos recebidos pelos Professores Marcos Coutinho
Loures e Lúcio Gusman. Duas esplêndidas criaturas, inteligentes, cultas,
sensíveis e frementes de idealismo. Na primeira volta pela cidade percebo o
óbvio ululante – não há povo mais cálido, mais generoso de uma alma tão amiga,
tão irmã.
5- O Professor Marcos Coutinho Loures explicou que a idéia
de uma homenagem a Mário Filho teve, em toda Muriaé, uma adesão unânime e
fulminante. Todos quiseram colaborar, a começar pelo prefeito Hélio Alves de
Araújo. Por toda a parte, um entusiasmo total. A juventude vibrou. Todos ali,
sabiam quem foi ou quem é Mário Filho. Eis a verdade – o grande “homem não
envelhece, não morre”. O que Mário Filho disse, escreveu, fez, as suas idéias,
os seus exemplos, suas realizações, suas utopias, tudo isso está no ar, difuso,
volatizado, em forma atmosférica. Continuamos a respirar Mário Filho.
6- Quando eu vi o desfile inaugural, em Muriaé, senti, como
Mário Filho está vivo. Na bela cidade mineira, era uma formidável presença. Mas
eu falei que minha viagem a Muriaé foi uma dessas luminosas experiências de
vida que ninguém esquece. Um povo todo veio para a rua. De repente, aconteceu
apenas isto: - uma massa de crianças gritando: “Mário Filho! Mário Filho! Mário
Filho!” Pode-se imaginar uma homenagem mais comovida, mais linda, ao criador
dos “Jogos da Primavera” e dos “Jogos infantis”? Naquele momento, a minha
vontade foi a de me sentar no meio fio e começar a chorar.
7- Apertei a mão de figuras admiráveis. Assim, o prefeito
Hélio Alves de Araújo, Gilson Vianna, Diretor Geral dos “Jogos”; e um
sentimental que está sempre a um milímetro da lágrima, Wilson Filgueiras.
Amigos, geralmente eu tenho um santo horror ao discurso. Mas Lucio Gusman
reabilitou a figura do orador. Sua oração foi brilhantissima. E o que dizer de
Marcos Coutinho Loures, um belo espírito, um coração bem brasileiro. A Viúva
Mário Filho teve todas as honras. Saí de lá certo de que era profundamente
irmão de cada habitante de Muriaé.
MARCOS COUTINHO LOURES
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