Meu jovem, você quer mesmo ser escritor? Ou quer só likes
nas redes? Porque são duas coisas bem diferentes, essas duas... Ser escritor
(não no sentido de escrivão, redator, digitador de mensagens meigas), mas no
sentido daquele que assume o seu papel como uma missão sagrada, uma vocação
profética, ser o porta-voz de um deus morto e no entanto belo e terrível, ser
escritor nesse sentido é fugir das luzes das vitrines, buscar as sombras mais
doentias, andar nas vielas mais sórdidas de uma existência obscura, desprezar o
senso comum dos jantares familiares, odiar a mediania da classe média branca,
escalavrar a carne da própria angústia e ter a lúcida clareza de que tudo isso
é em vão. Você quer mesmo ser um escritor assim? Está disposto a pagar o preço?
Sabe que ser um escritor desse naipe exige renúncias? E a maior renúncia não é
nem mesmo a da felicidade? Então prepara-te para o escárnio, a cruz, o
patíbulo, a solidão, a incompreensão, a via dolorosa da maldição em vida...
Pois depois de Baudelaire já não é possível poetas sorridentes. O Ocidente está
podre e desta podridão não podem brotar senão flores do mal.
Otto Leopoldo Winck
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