quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

DECADISMO




Cortei os pulsos
do poente.

(Nas ruas onde descaminho o sangue escorre das nuvens
nessa hora em que outrora havia ângelus e anjos acendiam as estrelas
onde hoje se acendem os anúncios luminosos...)

Cortei os pulsos
do poema
e vim à rua
contemplar o sol desfalecido.

Era fatal que me tornasse poeta.

(O sangue espirra sobre a pia e sobre o copo
e sobre o tubo de dentifrício e sobre o espelho onde outrora eu via
um rosto...)

Cortei os pulsos
do poente
e vim à rua
perpetrar o meu último poema.

Otto Leopoldo Winck

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