segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

SOBRE ATAULPHO E UM DE SEUS ÚLTIMOS DESEJOS




Merece destaque, em meu comentário de hoje, a amizade que, por longo tempo, tivemos com Ataulpho Alves, um dos mais festejados compositores da MPB, conhecido como Mestre Ataulpho no meio musical brasileiro.
O último contato que com ele tivemos, deu – se aqui em Muriaé, num barzinho da Rua do Rosário depois da visita que ele havia feito ao também miraiense Flavio Siqueira e, deste encontro, participou o jovem fanando Cruz, um dos mais brilhantes alunos que tivemos.
Reservado e até tímido, fora dos palcos, Mestre Ataulpho mostrava-se muito preocupado com a operação de úlcera gástrica que iria fazer, num dos mais bem aparelhados hospitais do Rio de Janeiro.
A cirurgia estava marcada para a semana do carnaval e este parece ser um dos motivos da apreensão e Ataulpho, a ponto de ter deixado gravado, com Flavio Siqueira, um depoimento em que se despedia dos amigos.
Segundo ele, “caso o pior acontecesse”, ele queria ser enterrado em Miraí, mas, caso amigos e familiares não deixassem, ele pedia que, mais tarde, seus ossos fossem levados para a sua terra natal.
E Ataulpho, antes de se despedir de mim, teve oportunidade de cantar para Fernando Cruz, a pedido do mesmo, o “Meus tempos de criança”.
Muito pouco tempo depois, a triste notícia de seu falecimento deixou de luto a MPB e, principalmente, o “pequenino Mirai”, por ele cantado em prosa e verso, em suas canções.
Marcando fortemente o nefasto acontecimento, o grande David Nasser, jornalista e compositor, colunista de “O Cruzeiro”, pediu à família que “não culpasse os médicos”, pois, segundo ele, a morte de Ataulpho havia sido fatalidade, pois, “maktub” – estava escrito =, como dizem os árabes.
Inevitável, porém, foi buscar as razões da Morte do Mestre e descobrir que o amigo Ataulpho havia falecido, num dos mais bem aparelhados hospitais do Rio, por falta de acompanhamento pós – operatório.
Na despedida que ele nos deixou, naquele encontro da Rua do Rosário, Mestre Ataulpho falava da certeza de que “desta” ele não sairia, mas aquela preocupação não justifica o ocorrido nem nos consola.
Há, sem dúvida, “mais coisas entre o Céu e a Terra, do que imagina nossa vã filosofia”, mas isso também não nos serve de consolo.
As coisas se sucederam da forma preconizada pelo amigo Ataulpho, com o enterro no Rio de Janeiro, mas estamos certos de que o “Mestre” só terá descanso eterno quando seus ossos forem repousar em Mirai, como era de seu desejo.
Aliás, soubemos que esforços nesse sentido foram feitos por João Bilheiro, mas obstáculos maiores impossibilitaram o translado que, seguramente iria dar um final feliz a esta história de amor.
“Lá, de onde estiver Ataulpho tenha matado as saudades de ‘Maria e de Aurora” ou se reencontrado com “Mariazinha” e com aquela “professorinha” por ele imortalizadas em suas canções.
Mas, para que Mirai se reencontre com sua história, é importante que ele volte a morar nos “verdes campos de sua terra natal!”
Apenas assim também é que nós, miraienses ou não, poderemos estar em paz com nossas consciências...

MARCOS COUTINHO LOURES

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