Este tema tem-me atormentado. Já sabemos que o homem pode ser uma besta. E no íntimo ele é mesmo uma fera. Animal selvagem. Mas nós o conhecemos domesticado, domado, nesse estado que chamamos de civilização. Por isso recuamos assustados ante as explosões de seu temperamento. Ele é capaz de promover guerras, matar parentes, entrar em uma escola e atirar em crianças desprotegidas. É passível de, a qualquer momento, ter o seu dia de fúria. Se caíssem de vez as correntes, os ferrolhos, as máscaras das cadeias da ordem legal, se a anarquia rebentasse, então veríamos a face oculta da fera-homem.
A organização da sociedade humana oscila como um pêndulo entre dois extremos, dois pólos, dois males opostos: o despotismo e a anarquia. Quanto mais se afasta de um, mais se aproxima do outro. Surge então, explicações que nada explicam e o pensamento que o justo meio__ e aqui se lê demokratia __ seria o ponto conveniente: que erro!
Em toda parte e o tempo todo, tem havido grande e sangrento descontentamento contra os governos, as leis e as instituições públicas. Protestos e banhos de sangue na Europa, no Islã e mesmo por aqui nas Narco-Nações, este descontentamento é visível. Mesmo entre os seres da mesma casta, isso é fato. Não nos suportamos mais e é por isso, que nos trancafiamos cada vez mais em nossas pequenas redes comunitárias, telas e teclados, acreditando termos à nossa disposição um mundo mais harmonioso e feliz. Mentira! Isso é o resultado de estarem sempre dispostos a torná-los responsáveis da miséria inseparável da existência humana, pois tem por origem, segundo o mito, a maldição que feriu Adão e com ele toda a raça humana. Contudo essa tendência de redução, jamais fora explorada de modo tão sórdido, mentiroso e imprudente do que pelos nossos demagogos contemporâneos tecnocratas. As misérias colossais são coisas do Estado que o homem criou e a ele delega toda a responsabilidade do fim da vida e do mundo. Desse mundo que conhecemos, e que não se cansam de anunciar em frases de efeitos, pomposas e enfáticas.
Na verdade, o que resta é esse ser, perdido e desorientado, seguindo as “tendências”, as modas, os padrões e o 1984 de Orwell. Um homem irascível.
Paulo de Tharso