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sábado, 1 de outubro de 2016

Cânticos


I
Tenho-te um amor de mansidões
rebanho lento e branco passeando na alvorada
tenho-te um amor tranqüilo e trêmulo
não se música ou se constelações
tenho-te um amor de eternidades
em vagas renascentes — brando som de flauta
chamando as superfícies distraídas
para a reconcentração definitiva
II
Como um ramo de úmidas rosas
quisera estar na sala em que respiras
o aroma de tuas primaveras
Como um cesto de frutos derramados
quisera ser a oferta abandonada
na mesa simples da tua eternidade
- Dora Ferreira da Silva, em "Andanças". São Paulo: Edição da autora, 1970.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Nascimento do poema





É preciso que venha de longe
do vento mais antigo
ou da morte
é preciso que venha impreciso
inesperado como a rosa
ou como o riso
o poema inecessário.

É preciso que ferido de amor
entre pombos
ou nas mansas colinas
que o ódio afaga
ele venha
sob o látego da insônia
morto e preservado.

E então desperta
para o rito da forma
lúcida
tranquila:
senhor do duplo reino
coroado
de sóis e luas.

Dora Ferreira da Silva, Andanças

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Habitas meu coração

Habitas meu coração: barbas de rei assírio

olhar de extensões alheias a tempo e medidas.

Tua voz tem asas de falcão e pousa

nas torres mais altas do meu ser onde jamais

me aventurei. É minha a tua solidão.

Sirvo-me em silêncio e às vezes como uma

criança me apertas em teu peito: acaricio

então tua face estranho rei.

Outras vezes ouço passos ecoando no

enlace das colunas em seteiras escadas. Se

grito teu nome – és mil ressonâncias e seu eco em mim.


Dora Ferreira da Silva