sábado, 31 de agosto de 2013

A estética da assimetria promove mais movimentos do que a estética da simetria. Isto não é um dogma, apenas o registro de uma repentina constatação que pode ser provisória. Estamos acostumados a ter criados mudos compondo, a cada lado da cama, uma simetria ideal. Nesse sentido, um dos criados deveria ser mudo e o outro bem falante, ou surdo-mudo? Pelo sim, pelo não, sustento o meu com uma pilha de dicionários de diversas línguas...Bom dia queridos leitores!

Glória Kirinus

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Poder

Posso quase tudo
Posso Muito
Posso às vezes tudo.

Posso mandar e desmandar
Posso fazer e desfazer
Posso demitir e nomear
Posso até fazer ilustres
rastejar.

Mas com todo o meu poder
não posso a morte enfrentar.

Carlos Alberto Stimamilio. RS

Chegou o dia


Chegou o dia
Em que o mundo fez
A grande manifestação.
O mundo inteiro pedindo
Algo que ficou confuso
Nos meios de comunicação.
Uma única pessoa ficou
Acordada durante o ato.
Ela nos conta em seu diário
(Por que em catástrofes
Sempre sobram diários)
Que aos poucos os corpos
Caiam em câmera lenta.
O mundo dormia na rua
O sono escondido por baixo
Das palavras de protesto.
Ao acordar, a surpresa
Voltaram ao início de tudo
Onde nem mesmo a terra era
Um planeta
Onde nem mesmo o verbo
Fazia o seu devido

Sentido.

Alexandre França

Lenda de Santa Clara e os Ovos



Reza a lenda que quando desejamos que o dia faça Sol ou que a chuva vá embora, devemos colocar um ovo no telhado e rezar as seguintes orações:
" Santa Clara clareou
São Domingos iluminou
Vai chuva, vem sol
Vai chuva, vem sol
Vai chuva, vem sol"

Tem este outro ritual:
Colocar um ovo em cima do telhado ou do muro de sua casa. Rezar um Pai Nosso e fazer esta oração:

"Lágrima do peito aberto, coração de Deus ferido, nos defendei da tempestade e de todos os perigos."

Para a chuva cessar há uma simpatia que ensina que devemos cantar, após colocar o ovo no telhado:
 "Santa Clara faça sol, para enxugar o meu lençol".
Estas simpatias de colocar ovos no telhado, para Santa Clara fazer parar de chover, foram baseadas na seguinte lenda:
Santa Clara e os Ovos:
Dizem que quando a mãe desta santa estava grávida, ela dizia:
- Esta minha filha se chamará Clara, pois iluminará o mundo.
Então, a profecia se cumpriu e a garota nasceu. Durante a sua infância, esta menina aprendeu a cozinhar e seus confeitos preferidos eram doces feitos de clara de ovos.
Na juventude, ela conheceu São Francisco de Assis e fundou a ordem de freiras chamada Clarissas. Diz a lenda que Santa Clara gostava de fazer doces com claras de ovos no convento. Alguns destes confeitos alimentavam as freiras, mas a maioria deles era vendida na aldeia para ajudar financeiramente os pobres.
Porém, uma vez, naquela mesma região, uma praga exterminou as galinhas e por isto os ovos dela sumiram daquele local. Deste jeito, Santa Clara ficou muito triste e rezou para que Deus enviasse uma solução.
Naquele mesmo instante, bateu na porta do convento uma caravana de carroças, cheias de galinhas e seres humanos, vindos da Espanha, que falaram:
- Por favor, nos ajude!
- Nos dê abrigo, pois nossa aldeia inundou, pois não pára de chover lá. Temos galinhas e ovos para oferecer em troca de hospedagem.
Santa Clara aceitou a proposta e aquelas pessoas simples encheram sua cozinha de ovos. Então, desta maneira, ela rezou:
- Meu Deus, fazei com que pare de chover na cidade deste povo!
Deste jeito, Santa Clara fechou os olhos e viu a chuva cessando naquela aldeia e a água sendo sugada pelo Sol quente.
Desta maneira, ela saiu correndo e avisou aos flagelados que eles podiam ficar hospedados o tempo que desejarem. Mas, explicou que por força divina, a chuva já tinha parado. Inclusive, águas que invadiram suas casas, despareceriam dali há 15 dias.
Portanto, Santa Clara explicou que se a enchente voltasse a prejudicar a aldeia daquelas pessoas, era preciso que estes mesmos moradores jogassem ovos no telhado e fizessem uma oração, pensando no criador e naquele humilde convento.

Luciana do Rocio Mallon

Atletiba



Atletiba sempre é um jogo especial,
Um clássico do futebol paranaense!
De uma maneira sensacional...
Brilha sempre quem vence!

A torcida do Coritiba...
É sempre ativa!
A torcida do atlético...
Tem um ritmo frenético!

O jogador que tinha uma coxa branca,
Tem a alma que sempre desce do céu...
Para animar a torcida franca...
Defendendo contra o gol cruel!

O atlético tem uma dançarina espanhola,
Que sempre veste preto e carmim!
Ela torce tocando a sua castanhola...
Como um sedutor querubim!

Atletiba sempre é um jogo especial,
Um clássico do futebol paranaense...
De uma maneira sensacional...
Brilha sempre quem vence.
Luciana do Rocio Mallon

Presente

Essas coisas que estão na minha mão. É isso que me incomoda.

Não que as coisas me incomodem, mas o fato de eu não saber se foi o mundo que me deu de presente ou se eu roubei dele e ele vai querer pegar de volta e me colocar de castigo. Quando fecho o olho e imponho minha vontade, quando aproveito a embriaguez para facilitar o vazio, quando jogo no mundo o que eu quero jogar e mexo meus paus para ter o que eu quero. Não que eu sempre tenha, mas de vez em quando dou a sorte de ser obedecido. Geralmente acho que fiz um bom trabalho.

E quando há uma punição? Eu que me puno ou o mundo que me pune? Ou alguém me pune, fechando os olhos e soprando a fumaça do cigarro com sua mensagem para os céus? Dando mais um gole e deixando-se quase desmaiar com o excesso, pedindo para qualquer deus interno que faça uma conexão com as estrelas e coloque o diabo sobre minha coluna vertebral? Algum bruxo-piadista obcecado que me dá um castigo e coloca um pequeno prêmio dentro dele.

Quem será ou quem serei?

Matheus Quinan


O quarto



Tábuas corridas acolhem pés desassossegados. O embalo de um tempo escorrido no azul caiado,contextura de um dividido entre os seus e o ser. Amparados, água, ar e absurdos e angústias saltam dos olhos pendurados na parede. A luz é representada citricamente, o espelho está sempre presente... um juiz cruel demais. Assentos esperando a calma que não chega. E a cama é pequeno detalhe, nau para navegar pela memória.

juleni Andrade

Allora



Ammorbidire le mie ossa
polvere che trasuda
non ti voglio vicino
molte ore al giorno
Leg passo d'uomo
vita quasi momentanea
osso motore box
dando lo strappo di partenza
soffoca il primo
lasciare secondo mix
bicchiere vuoto in mano
occhi morti che cadono
avuto il tempo giusto
mancava una stretta

nodi ormai lontani.

Redson Vitorino

Dos goles ao cair



Eu sento e abro a primeira lata
em dois ou três minutos termino 
mas ela não fica vazia 
há o medo bem no fundo
eu abro a segunda e penso em pássaros 
num instante acabo e rio da liberdade deles
mas ela não fica vazia
há o medo bem no fundo 
eu perco a conta e seguro o choro como criança 
ausência de tempo e os pássaros riem de mim
transborda cada palavra não dita
há o medo bem no fundo
encosto a cabeça 
a deixo cair quando não dou por mim
horas parem de seguir eu penso
um ponteiro indo
o que há agora?
toda partida é mais uma lata
e há um medo bem no fundo.

Redson Vitorino

O adeus que não darei



Mal seguro um copo
o faço cair vazio
me nego um trago
nem pulmões tenho
fluir das pernas quentes
roliças como toras de lenha
ateia fogo ao meu passado
recosto em mim mesmo
petisco a vida que se parte
a vida nunca foi meu prato favorito
famelico sempre até os ossos
engraçado quando abandono o dia
só mais um por favor
o relogio marcava horas
se ninguem perceber eu levantar

saio sem pagar a conta.rv

alcobaça, 1, fragmento

bem chegada de alcobaça
com raridades que trouxe
pisou na minha carcaça
com seu olhar de enxofre

em meus jardins de fumaça."


( romério rômulo)
Por trás de todo plano há um piano escondido. Por trás de todo piano há um plano escandido. Milagre, apenas uma letra muda o sentido do mundo. Do mundo ou do mudo? A palavra é graça que vem de graça, poucos sabemos desta riqueza.
Glória Kirinus

A língua cinza do granizo | X

            
•             Finitude, ternura de ossos,
•             um fosso tão fundo
•             que a luz se intimida
•             e a palavra resvala como os olhos
•             resvalam na beleza,
•             no pensamento que se esconde
•             quando muda de sentido
•             em sentido, quando fala
•             da nudez das coisas entre sombras,
•             a nudez do ser na morte
•             nua em ossos, a morte em pétalas
•             de olhos cada vez mais claros
•             que a recobrem
•             enquanto dura o instante da palavra,
•             enquanto escorre a alma
•             e a tinta da alma
•             entre os dedos, nas entrelinhas
•             onde o coração dispara;
•             e por mais que o tempo descubra
•             sob as camadas da pele,
•             sempre a pele,
•             a noite de que é feita a face
•             e a lua das idades onde o tempo voa,
•             a vida escreve como a chuva escreve
•             (os dedos em dilúvio)
•             o que nos meandros latentes

•             o escuro murmura.

Contador Borges | A morte dos olhos

Nervuras | XIII

No deserto da pele, nos olhos
(quase pássaros),
sondas aéreas varrem
de extremo a extremo:
sopro de ecos sobre o silêncio;
e de repente a concha,
o som perplexo da boca de Homero:
o sem-olho, só dentes, esmerilha o destino
sob sol e chuva
para arrancar Ulisses
do sonho carcereiro da deusa.
Assim faz a carne com os sentidos,
faz a vida com a pele mortífera
até a língua exprimir seus prodígios,
até a fome inventar um antídoto,
sabores íntimos na extremidade do tato,
as regiões da língua,
os cimos do palato, este palácio
onde os sentidos fulguram,
onde as palavras destoam,
ouro soante, pérolas afoitas: primos ricos
da redundância.

Sérgio Gonçalves




Jeronimo Collares

Será derradeira, rua nossa companheira
Nossos punhais em bandeiras
Do grito a ensurdecer senhor
que impõe nesta terra o terror

Será derradeira, rua nossa companheira
Das casas, até os filhos virão munidos com brasão
derruir o covarde bufão
que impõe nesta terra o terror

Será derradeira, rua nossa companheira
Falange vermelha, amigo, camarada
braços entrelaçados, corações lançados
a exceder limites do barbante e porrete
da fera ignorante encarreirada errante
que impõe nesta terra o terror

Venceremos, afinal, em final - ao final

livros

Horizontes de  nossos abismos.A melhor literatura não é sempre a mais comportada.
Por isso  crianças,sois  sóis e campos floridos com olor de sangue fresco
como nos contos de fadas. Para prepará-los para os dilemas que virão.

Wilson Roberto Nogueira
Na dança...

Na dança, o bote.
No respirar fundo, o fascínio.
No todo, o dote.
Adoro ver a dança espargir-se.
Reverencio a bailarina,
que enfeita sua sina
de forma tão mágica.

De soslaio, feito cão de guarda,
miro a personalidade bem declarada
daqueles que dominam suas vidas
através da dança sagrada...

Ao caminhar pelas ruas,
sinto que todas as impressões
tornam-se frias e cruas.
Sinto que os melindres soltam-se...
sinto que os deslizes não abortam-se...
tudo fica às claras,
de forma rara e cara.
Tudo se confessa presente.
A gente sente...

josemir(aolongo...)

 




bachiana em dois movimentos pra villa-lobos

já volto, vou me inexistir.
no peito, aquela coisa de moer cana.


(poema de Nina Rizzi, publicado na revista Eutomia)
Suave é o meu navegar...
encantamento de sagração.
Limpidez de pureza circunscrita
na magia da água, que clara,
reflete a minha vontade infinita
de seguir...

josemir(aolongo...)


- do ranger da escada. o ranger reticente. uma escola de pescoço no fosso que é seu rosto. sabe, que por sobre os escombros você é até mais charmoso? na cripta, em brisas sem cabeças, camazulenas em gretas e entre os azulejos de sua pessoa escapada de um incêndio: - veja a outra alma vendida, prêmio, entre o muro funestamente antigo, de um reboco lamego, molhado em castigo por pintas e rosas e flores de onde se vê um jardim num silêncio de horas borboletas e pequenos morcegos (Quiróptera) pássaros-calopsitas e aracnídeos em delirium tremens entre unhas compridas.

são hematófagos de amor de olhos verdes.


Adriana Zaparolli

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Ela, que contraiu matrimônio com Tânatos, e nos deixou cedo demais



Oisive jeunesse
À tout asservie;
Par délicatesse
J' ai perdu ma vie.

Arthur Rimbaud; Chanson de la Plus Haute Tour

atino em eufórica
sensação de escombro:
mais importante que ser feliz
é estar vivo!

 Rodrigo Madeira; lanterneiro


para i. v.


Réplica de Walter
Benjamin,
sem poder cruzar as
fronteiriças regiões
psíquicas,
em ágil e instantâneo
movimento,
você deslocou a
vida para fora de si.

Restou o nó na garganta,
os pés no vazio,
desfraldado pavilhão
do desperdício.

Retorna o sol manso
de inverno,
aquecendo outra
manhã de segunda

(só você não viu?)

de rotinas sonâmbulas,
da coletiva
mesmerização vendida por
oneroso suor
à indústria da mídia.

E suas carnes não mais ninho
de ávidos amantes,
nem seus ouvidos para
only rock and roll
but we like,
nem seu paladar
a saborear colheres
de chocolate com amêndoa,
ou lúpulo fermentado.

Nem o colo
inestimável,
imprescindível
para suas meninas

(suas meninas, meu derradeiro
argumento)

Só o monstro do Real
agora lhe devora.

Restei, com essa cara
de panaca
que me olha do
lado do mundo de Alice
e um ar tão denso
quanto um derramamento
de óleo.

Não bebi do mesmo
copo para medir
as perspectivas da escolha
porém, você também
não bebeu
do copo dos que,
no dia seguinte,
foram convertidos a
meras estátuas de sal,
sem filha,
sem mãe,
sem irmã,
nem amiga,
nem igual.

Se, símil ao torna lar e
ambidestro na Arte,
próximo à rocha
onde os rios ecoam,
consagradas oferendas
ao cavado fosso,
invocada licença
aos guardiões do Érebo,
pudesse ver sua ânima,
estaria você mais sábia?

E, estando mais sábia,
desvelado Tânatos e seu
enfadonho mistério,
rogaria à Perséfone ou
à qualquer orishá balê,
que voltasse à matéria
por apenas uma noite,
no verão,
para, com suas filhas,
poder simplesmente
admirar sóis longínquos
e com elas rir,
sem nenhum motivo.



Ricardo Pozzo

O poeta é brando
Trabalha, arma uma batalha
quando está sonhando

Alvaro Posselt

sábado, 17 de agosto de 2013

Ela, que contraiu matrimônio com Tânatos, e nos deixou cedo demais


Oisive jeunesse
À tout asservie;
Par délicatesse
J' ai perdu ma vie.

Arthur Rimbaud; Chanson de la Plus Haute Tour

atino em eufórica
sensação de escombro:
mais importante que ser feliz
é estar vivo!

Rodrigo Madeira; lanterneiro


para i. v.


Réplica de Walter
Benjamin,
sem poder cruzar as
fronteiriças regiões
psíquicas,
em ágil e inesperado
movimento,
você deslocou a
vida para fora de si.

Restou o nó na garganta,
os pés no vazio,
desfraldado um pavilhão
do desperdício.

Retorna o sol manso
de inverno,
aquecendo outra
manhã de segunda

(só você não viu?)

de rotinas sonâmbulas,
da coletiva
hipnose vendida por
oneroso suor
pela indústria da mídia.

E suas carnes não mais ninho
de ávidos amantes,
nem seus ouvidos para 
only rock and roll
but we like,
nem seu paladar
a saborear colheres
de chocolate com amêndoa,
ou lúpulo fermentado.

Nem o colo
inestimável,
imprescindível
para suas meninas

(suas meninas, meu derradeiro
argumento)

Só o monstro do Real
agora lhe devora.

Restei, com essa cara
de panaca
que me olha do
lado do mundo de Alice
e um ar tão denso
quanto um derramamento
de óleo no Golfo.

Não bebi do mesmo
copo para medir
as perspectivas da escolha
porém, você também
não bebeu
do copo dos que,
no dia seguinte,
foram convertidos a
meras estátuas de sal,
sem filha,
sem mãe,
sem irmã,
nem amiga,
nem amante.

Se, igual ao torna lar e
ambidestro na Arte,
próximo à rocha
onde os rios ecoam,
consagradas oferendas
ao cavado fosso,
invocada licença
aos guardiões do Érebo,
pudesse ver sua ânima,
estaria você mais sábia?


Ricardo Pozzo




sábado, 10 de agosto de 2013

van gogh, 1

o ritmo da fala
é o tempo da desestrutura
à bala
do extrato arrancado na loucura"

( romério rômulo)

 

fragmento

nunca se viu muita coisa
da água que me atormenta
do corpo que me embaça
do olho que me inventa."
 

( romério rômulo)

fragmento

tudo que fosse e não fosse
vou beber da água doce
nascida da tua venta."
 

( romério rômulo)
Creio muito na força dos escritos. O grau de pecabilidade inserido em meus intentos, permitem-me temer, sem tremer.
O artista procura sempre estar bem representado, em suas habilidades e talentos. Mais que isso, ele necessita testar-se. Precisa alongar a visão, para que não se perca das grandes obras, que ainda se farão nascer, através da sua inspiração, dom e talento. 
Creio de forma forte no que jamais se deixa alvoraçar pelo ir e vir do vento.
Sou fiel à minha gana de buscar, sempre buscar.
Creio demais no que me inspira e abstrai de minha mente, quaisquer possibilidades de fracassos.

josemir(aolongo...)

 

POEMA DO AVESSO


 
O que há em mim
é a lenta preparação
do que há em ti
sombra segada
sangrada
e sagrada
até nos olhos dos meninos
que nasceram sem olhos
 
vidência única
(vide o verso)
 
visão múltipla
(vede o anverso)
 
e tudo que está
do outro lado

do espelho.
O clima ficou tenso
Meu pensamento defumou
depois da queima de incenso

Alvaro Posselt

Álvaro Posselt e Jacques Brand


o antro sonâmbulo/ do macaco terráqueo:/tamanduás do espaço/de alimento barato

um cancro no orquidário/das formigas sem sufrágio:/a guerra nas esteiras
do fordismo enferrujado

o tal homem biônico/de braço descartável:/o lado grego da força/tanta e sem trabalho.


 Marcus Fabiano
Fonte : Roberta Tostes Daniel
"Embora a transmissão da informação e do conhecimento se possa fazer hoje de muitas e diferentes maneiras, o texto continua sendo importante. Ele estimula a imaginação, ele amplia o domínio sobre a palavra (e a palavra é um esteio fundamental da condição humana) ele pode ser arte. Uma bela história e um belo poema melhoram nossa vida."
 

- Moacyr Scliar, em “entrevista” à revista Educar para Crescer, 26.01.2010.

ÊXTASE E LOUVOR À PRINCESA QUE MORREU DE AMOR

3 Devora-me um tigre
que insone vive/
tua sombrosa mata
 
E ronda essa casa/
seu corpo
seca-me a carne
 
Faminto de morte
teu tigre passeia/
dorme/
impura glória
sobre a minha tarde
 

js|ÊXTASE E LOUVOR À PRINCESA QUE MORREU DE AMOR.

MÃOS DE PEÃO


Laçam bois, e tocam boiada, como ninguém
Mãos de peão
Não sabem o que é polimento
Não usam cremes nem hidratantes
São belas de nascimento
E são com elas que fazem o sinal da cruz
Antes de partirem para a lida
Das novas empreitadas
Roçam o mato, plantam as sementes, colhem os grãos
Ou não, se a seca mata
Mata a plantação
Mas não mata a sede do peão
De ver nascer de novo, a floração
O pé de milho, o pé de alface, o pé de feijão...
E por aí vão, cantando e gemendo
As dores, e as alegrias 
De quem vive no sertão 
Não se cansam nunca, segundo eles
Homem cansado é homem fracassado
Um pingado de pinga com mel
No final do dia
Faz a mão do peão, tirar o seu chapéu
Levar o copo à boca, de uma vez só
E olhar para o céu
Como se Deus lhe sorrisse
E Deus sorri, acredito, satisfeito
Com esse povo crente, apesar de sofrido
De onde vim.

(Adelaide N.)

O escritor e poeta Jacques Brand


O que me diferencia...


Não me sentiria bom gaioleiro...
não me sinto exímio figurante podador.
Se minhas asas por vezes se prendem,
prefiro libertar meus passos...
nem sempre o não voar se faz impedimento
para a realização dos sonhos.
 
Não me ofusco com as ilusões afeitas aos atos carrascos,
meus sentimentos não se sentiriam bem...
 
Não me prendo ao mutismo exacerbado
dos que doentiamente somente observam...
meus atos gostam de rumores, de fortes movimentos.
 

josemir(aolongo...)

fragmento

uns graus de febre eterna
avulsam meu corpo
eu, louco."

( romério rômulo)

A FLOR DO SEXO

Rubens Jardim
 
abaixo do teu umbigo
 
existe uma caverna
 
de rochas ígneas,
 
magmáticas.
 
dizem que elas são
 
formadas de feldspato,
 
quartzo, anfibolitos, mica
 
e minerais preciosos.
 
 
 
mas abaixo do teu umbigo
 
eu não encontro nada disso:
 
eu vivo a nascente e a foz
 
simultâneas.
 
 
eu nunca tirei mais coisa
 
da água que me atormenta
 
do teu corpo que me embaça
 
do teu olho que me inventa
 
 

Primaverando



Que venha logo setembro
pleno de troncos e membros
e prima viril me devore
com sua boca de leão
e se demore onze-horas
cobrindo-me de amoras
amores e heras.

Que deveras venha a primavera
e ainda tenha no olhar
um certo ar de cão sem dono
e uma fome de outono a saciar.

Que traga tatuado no peito
um amor-perfeito para me dar
e me dê flores, me deflore,
dê lírios, palmas, beijos.

Me deguste agosto
da copa ao piso,
do riso ao choro,
e sem decoro me decore
com todas as cores do arco-íris.

Que matize os meus seios
com entremeios de renda preta
e sobre meu espartilho vermelho
derrame um copo-de-leite violeta.


(Marilda Confortin in “Busca e Apreensão”)

O poeta Ricardo Pozzo


Lenda do Cachorro Nego da Água de Umuarama



Reza lenda que no lago Tucuruvi, na cidade de Umuarama, no interior do Paraná havia um espírito solitário chamado Caboclo da Água. Uma noite, ele se sentiu muito só e fez um pedido ao céu:
- Minha doce Lua Cheia, por favor me traga um amigo, pois estou muito sozinho.
No dia seguinte surgiu um filhote de cachorro, da cor preta, que saltou no rio e nadou. Assim o cão ficou amigo do Caboclo da água, que sempre se escondia da população. O problema é que o cão não tinha como se esconder das pessoas, já que era um bicho real e não uma entidade espiritual.
No começo, a população estranhou o comportamento do animal, pois ele nunca saia do rio. Por isto o cachorro recebeu o nome de Nego da água. Reza a lenda que algumas pessoas tentaram adotar o bicho, mas ele sempre fugia para o rio. Ele até pegou várias pneumonias, mas não chegou a falecer, pois a população sempre levava o animal ao veterinário quando ele adoecia.
Até hoje não é só o espírito do Caboclo da Água que é amigo deste cachorro. Pois, as crianças também amam brincar com ele perto do rio.

Luciana do Rocio Mallon

Lenda do Ex-Bruxo da Estação Guadalupe



Num passado distante, havia no interior de Matogrosso um homem chamado Douglas que era um lavrador muito ambicioso, pois sonhava em ser um grande fazendeiro. Para realizar seu sonho ele procurou uma cigana da região que ensinou-lhe simpatias para melhorar de vida. Assim este homem tornou-se um dos fazendeiros mais ricos da região.
Um certo dia, a sua cidade recebeu a visita de uma feiticeira famosa. Então Douglas procurou a bruxa com o objetivo de ficar mais rico ainda. Logo, ela passou-lhe feitiços pesados e num deles ele teria que matar um bode. O homem ficou na dúvida e pediu conselhos a sua amiga cigana que disse-lhe:
- Por favor, não faça nenhum ritual que envolva mortes de animais, principalmente, bodes. Pois, isto atrasa a vida.
- Você ficará com o corpo fechado, porém com nada no bolso.
O problema é que o agricultor não ligou para este comentário e resolveu fazer o ritual.
Um mês depois da magia ele ganhou mais dinheiro. Porém, depois o fazendeiro conheceu uma loira bonita que lhe seduziu e roubou todos os seus bens, pois ela fez o agricultor passar todas as propriedades para seu nome.
Douglas entrou em depressão e começou a beber. A sua amiga cigana deu-lhe abrigo. Porém, como ela estava muito velha, faleceu poucos dias depois.
Assim, este homem virou um mendigo. O tempo passou, uma caravana de ciganos chegou na cidade e acolheu o rapaz.
Os ciganos armaram acampamento por pouco período e resolveram partir para Curitiba. Assim, Douglas foi junto. Quando eles chegaram na capital do Paraná, Douglas decidiu abandonar seus amigos, virar mendigo e morar na rua em frente à Estação Guadalupe.
Reza a lenda que neste lugar havia um comerciante temperamental, um ex-satanista que tinha se convertido a uma religião evangélica. Este rapaz tinha o corpo todo tatuado com símbolos da sua religião anterior, como: pentagrama invertido e o bode de Mendes.
O problema é que Douglas transformou-se em um viciado em drogas e passou a vender crack na Estação Guadalupe, atitude que irritava o comerciante.
Uma certa noite, o ex-fazendeiro e seus comparsas provocaram e desrespeitaram este lojista. Assim, o rapaz ficou irritado, pegou uma barra de ferro e bateu nos dois homens. Douglas foi o que mais apanhou, mas as pessoas que presenciaram a briga ficaram assustadas, pois este morador de rua nem sequer desmaiou e começou a gritar:
- Tenho corpo fechado !
- Tenho corpo fechado !
Reza a lenda que depois desta confusão ninguém mais viu o ex-fazendeiro e seu amigo na região. Porém, o tráfico de drogas e os viciados ainda incomodam as pessoas na Estação Guadalupe.

Luciana do Rocio Mallon

Lenda da Mulher de Branco de Curitiba



A maioria das cidades tem uma lenda em comum: A Mulher de Branco, sempre com um enredo variado. Com Curitiba não foi diferente porque este lugar também tem um causo sobre esta personagem:

Nos anos 70 Ana era uma jovem, muito religiosa, moradora de uma cidade do interior, que procurava seguir as regras de uma família rígida.
Um certo dia, o padre morreu e mandaram um jovem pároco para o lugarejo. Logo, na primeira missa, o sacerdote novo olhou para Ana, apaixonou-se por ela e o sentimento foi recíproco. Assim, os dois passaram a se encontrar escondido.
Alguns meses depois tiraram fotos do padre com Ana e mandaram para a família desta sua namorada. Por isto, a dama foi expulsa de casa sem dinheiro no bolso. Desta maneira, a pobre resolveu sumir da cidade e ir para bem longe, pegando carona de carro em carro até chegar em Curitiba.
Na capital paranaense a moça virou moradora de rua. Numa certa noite, ela sonhou que um anjo pediu-lhe para que ela vestisse só roupas de cor branca para purificar seu corpo, mas que seus pés deveriam estar sempre bem tratados porque no dia de sua morte eles se transformariam em asas. Por isto, a dama passou a se vestir só com roupas desta cor. Ana, para sobreviver, passou a desenhar os rostos das pessoas que passavam pelas ruas. Como ela era muito talentosa, esta atividade virou seu ganha-pão. Esta mulher passou a ser frequentadora de um famoso salão de beleza, da época, localizado no bairro chamado Mercês, somente para que a pedicure e a reflexologista tratassem de seus pés. Pelo fato desta moradora de rua não tomar banho, a dona do estabelecimento marcava um horário especial para que ela fosse atendida. Afinal, por causa do seu odor, a proprietária era obrigada a abrir todas as janelas. Porém, o mais interessante é que depois de ter as unhas feitas, Ana jogava suas meias velhas no lixo e pegava novas.
Esta jovem nunca escondeu a verdadeira história do seu passado. Logo, surgiu o boato de que esta artista virava mula-sem-cabeça nas noites de Lua Cheia, pois segundo crendices: toda a mulher que namora um padre tem este destino.
Ana gostava de andar pelos bares do Largo da Ordem à noite e era comum ela assustar as pessoas nas esquinas para depois dizer-lhes:
- Se vocês desejarem um retrato personalizado, eu posso desenhar.
Reza a lenda que Ana faleceu nos anos oitenta, mas que seu fantasma sempre aparece no Largo da Ordem, todo vestido de branco, com asas nos pés, assustando e falando para as pessoas:
- Se vocês desejarem um retrato personalizado, eu posso desenhar.
Dizem que depois que esta mulher faz a gravura e entrega ao seu destinatário, ela some no ar.

Luciana do Rocio Mallon

GUERRA E PAZ



Porque emprestas tua beleza à rosa 
Que me faz viver 
É que sorrio 
E amo-te 
Acima dos campos 
Minados de sombras, bombas que matam 
Ou de luzes artificiais 
Amo-te, com o fogo da minha alma

Essa, que me sinaliza 
Onde quer que te encontres 
Me acende os sentidos 
E me empurra ao encontro de ti 
De baixo para cima 
Ou de cima das cachoeiras 
Eu não caio 
Eu voo 

Até o arco íris 
Eu escorrego nas suas cores 
De olhos fechados 
Para sentir a surpresa do que me espera 
Flores, beijos, poemas, canções... 
O conforto que necessito 
Está em ti 
Se não estás possuído 
De outras febres e tiranias... 
Que não são minhas.

(Adelaide N.)

domingo, 4 de agosto de 2013

Libelo

Roberta Tostes Daniel


Um libelo, a existência
Teço agulhas como quem
Espreme espinhas
A minha mão é uma flor
Exprimo voos de libélulas.

Doutrinar os estoicos
Com as desgraças do ciúme:
Peco mais por me deixar vagar
Tão neutra como quem se perfuma
Sem dono, o meu corpo é um pórtico.

Estupidez proeminente
O êxtase secreto
De burlar as regras
Um abandono, profunda alegria
De protozoário no universo.




Destino

Roberta Tostes Daniel


Inverte a chegada à porta do descomeço,
teus lábios de perguntas queimam
do sol das chuvas de sangue.
Bebe o vinho que te fará redivivo
nos ciclos completos de dúvidas.
Ama o trago da terra amarga e segue
empós a ceifeira da renovação:

"a resposta está além dos deuses".