quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Contador Borges | A morte dos olhos

Nervuras | XIII

No deserto da pele, nos olhos
(quase pássaros),
sondas aéreas varrem
de extremo a extremo:
sopro de ecos sobre o silêncio;
e de repente a concha,
o som perplexo da boca de Homero:
o sem-olho, só dentes, esmerilha o destino
sob sol e chuva
para arrancar Ulisses
do sonho carcereiro da deusa.
Assim faz a carne com os sentidos,
faz a vida com a pele mortífera
até a língua exprimir seus prodígios,
até a fome inventar um antídoto,
sabores íntimos na extremidade do tato,
as regiões da língua,
os cimos do palato, este palácio
onde os sentidos fulguram,
onde as palavras destoam,
ouro soante, pérolas afoitas: primos ricos
da redundância.

Sérgio Gonçalves




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