domingo, 26 de setembro de 2010

Diálogo com o meu eu


“Quem olha para dentro de si, sonha.

Quem olha para fora, pratica”.



Todo começo de ano é esperançoso. Promessas de fazer algo diferente, de mudar a rotina e de até fazer algo pelo outro, ou seja, ser caridoso. E aí começa a confusão de conceitos. Primeiro, porque colocamos nossas esperanças em coisas ou objetos. Segundo fazemos sempre as mesmas promessas, mesmo sabendo que nunca cumprimos. Terceiro: ser caridoso? Por quê? Que diferença isso faz?

Faria grande diferença se compreendêssemos, exatamente, o real significado dessa palavra, dessa atitude. Atualmente confundimos caridade (ser caridoso) com dar esmola - um dinheirinho aqui para um mendigo, um brinquedo de 1,99 ali para uma criança de rua, para um orfanato. Às vezes os mais “caridosos” doam uma cesta básica e até – olha só!! – uma cesta natalina, com direito a um frango para pessoas necessitadas. E isso é a caridade comunicada, exaustivamente, até pela TV. Abro parênteses (eu não costumo assistir TV, mas enquanto pensava em como começar a escrever para essa coluna cheguei a acompanhar 32 matérias, nos mais diversos programas sobre a caridade que surge por essas épocas). Essa mesma caridade que move as pessoas a esquecerem suas desavenças, pelo menos nessa época do ano, e assim, se “perdoam”; as famílias se reúnem e o espírito consumista do natal deixa o clima mais leve, mais festivo e isso faz transpor lágrimas em muitos olhos.

Mas a palavra CARIDADE anda, digamos, meio aborrecida com esse contrapor de significados e sentidos que a ela é dado. Segundo o Aurélio, o primeiro significado dessa palavra é “o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem” e, não é por acaso, que esse significado vem antes de benevolência, complacência e filantropia.

E o que é a “busca efetiva do bem de outrem”?

Sendo uma busca efetiva ela não pode ser temporária nem esporádica. Nós humanistas traduzimos essa busca efetiva como “trate os outros como você gostaria que te tratassem”. Isso resume toda nossa movida pela valorização humana. Tudo isso porque não acreditamos que nós, que o Ser Humano em si, seja uma “coisa”, um objeto qualquer que pode ser explorado e descartado a qualquer preço ou a qualquer momento. Não queremos para nós, e com isso não aceitamos para o outro, a violência, a discriminação, o preconceito, a indiferença.

Queremos condições igualitárias para todos. Condições também que nos permita ampliar nossa comunicação, aprender e se desenvolver cada vez mais e, com isso, valorizar as características individuais e coletivas.

Você pode dizer: “isso tudo é utopia”, mas só dirá isso se a frase escrita antes do início desse texto tenha lhe passado despercebida ou sem nenhum sentido. Nós humanistas praticamos nossos sonhos.

2011 poder virar um ano cheio de promessas, inclusive políticas. Antes de criticar as promessas não cumpridas, dos outros, seria bem interessante avaliarmos e praticarmos as nossas.

É isso aí. Que você possa, a começar por este ano, “olhar para fora” de si mesmo. E depois, quem sabe, para fora da sua janela.



Paula Batista

Nenhum comentário: