terça-feira, 12 de abril de 2011

Centro da Cidade

Precisava descobrir como arrancar a corrente de ferro do meu tornozelo. Falei que ia no consultório da doutora Vera. "Ah" , o porteiro respondeu sem me olhar. A sala de espera, vazia. Sentei, olhei o inchaço do pé acorrentado. Peguei uma revista despedaçada, adormeci. Passou-se muito tempo, acho, porque uma parte de mim batia de noite numa porta, cães ladravam, certamente atiçados pelo meu miasma de terror. Eu batia, batia, até uma ventania levar o meu chapéu. Debruçada sobre meu ronco, me acordando, sim, a doutora, em seu jaleco meio aberto, entremostrava seios nos quais fui de pronto para fugir dos cães. no desvairado regalo, ouvia um arrastar dos grilhões. Que jeito?, eu vinha de séculos, e só agora encontrava uma, ah! , uma taverna, enfim...

João Gilberto Noll. in "Relâmpagos" 

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