A rua perdida da minha infância era de barro,
depois, calçaram-na com paralelepípedos;
o futuro, porém, poupou-me de ver a tristeza do asfalto.
Nela joguei bola,
sentei-me no meio-fio,
para conversar com os amigos
e ver as moças,
com suas primeiras mini-saias,
descuidadas,
descerem dos ônibus.
Eram tempos remotos,
de andar sem lenço
e sem documento,
de ver a banda passar,
de zumbidos de besouros ingleses,
de estrondos de pedras rolantes
e de bombas de napalm,
de descobrir a praia
debaixo das pedras,
desfilando pela avenida,
de braços dados,
aos milhares,
exigindo o impossível:
o amor em vez da guerra.
Por ela assoviei nas madrugadas,
meio de porre,
voltando dos bailes,
nos quais, por não saber dançar,
acabava dançando,
sempre terminando sozinho.
A rua perdida da minha infância,
apesar de nela não mais morar,
continua sendo o endereço
de maior parte das minhas melhores lembranças.
José Luiz Santos
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