domingo, 2 de dezembro de 2012

EPITÁFIO




Décio Pignatari menino imenso e castanho com tremores
nascido sob o signo mais sincero e para e per e por e sem ternura
quem te dirá do mando que exerceram sobre os teus cabelos
os amigos rápidos as mulheres velozes e os que comem dentro do prato
Estás cansado Pignatari e teu desprezo entumesceu como uma árvore tamanha Estás cansado como uma avassalada aberta enorme porta enorme
e quando abres os braços repousas os ombros em amplos arcos de pássaros vagarosos Lento e fundo é o ar de tuas tardes nos teus poros
e dentro dele se desenredam fundos e atentos mesmo os esforços mais assíduos
e se mergulhares tua mão na água que repousa à água acrescentarás a mão e a água
Décio Pignatari menino castanho e meu como um cachorro grande
que atravessa o portão sereno inflorescendo aos poucos no jardim seu garbo
com a calma grandiosa das nuvens que se abrem lentas na tarde para envolver o ar devagar tua cabeça almeja devagar a superfície sem temores
e tuas pálpebras se inclinam aos eflúvios da sesta mundial de imensos paquidermes
que avolumam na sombra como grandes bulbos insonoros em cavernas dormidas Mansa dinastia de gestos nas ruínas dulcificando as intempéries da memória
descansa como um cortejo de crepúsculos antigos na cordilheira turva da semana
Crescente como o céu de março nas ameias das torres elevadas e redondas
e à tua própria sombra no mundo que perdeste descansa Pignatari.

Décio Pignatari

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