Eu sou um tigre
que se desloca na manhã de sexta-feira
pelas pistas de alta velocidade do Aterro do Flamengo
a caminho ansioso de Copacabana
enquanto o sol, sem aviso ou permissão
entra pelas janelas devassadas
do ônibus que me transporta
aquecendo a mulher taciturna
que ao meu lado faz crochê.
Eu sou uma fera contida
dentro dos muitos cercados
dessa selva repleta de bichos-automóveis
e árvores de ferro, concreto e vidro-fumê,
querendo comprar a vida a qualquer preço
seja a prazo, seja à vista
de qualquer que seja a maneira
seja qual for o preço que tenha de pagar. . .
Desfeito em minha contemplação distante
- o olho uma máquina fotográfica em cliques sucessivos -
uma pétala de flor de um ipê amarelo
vem e me tolda momentaneamente a visão
impedindo que eu veja as vitrines enfeitadas do riossul
armadilhas que capturam incautos cartões de crédito
portais - quase - irresistíveis da ilusão.
- por José Luiz de Sousa Santos
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