quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

FLAGRANTES





Gosto de sentir a felicidade máxima em tempo mínimo. Gosto de sentir o vento quando atravesso a rua e minha saia se levanta como se eu tivesse asas. Bailarina do acaso, danço na calçada, num pequeno espaço, num quadrilátero, ouvindo a música do vento.

Gosto de sentir o perfume das árvores, onde flores se penduram, como estrelas brancas. Outro dia, uma folha caiu no meu decote, andei assim maravilhada com aquele presente, a dádiva, o broche, andei como uma Eva vespertina, cruzei a cidade com a minha fantasia.

Gosto da companhia do acaso e de pensar que os tempos não se repetem, os momentos não se repetem, a vida não se repete porque sua dinâmica é mágica, acontece até mesmo em segundos e, no entanto, a memória existe pela eternidade, subvertendo o início e o fim.

Gosto de me despir das folhas e comer os frutos no tempo em que são me dados. Banquetes instantâneos em que flagro a felicidade num átimo, num lapso, num voo com os deuses inconstantes e, assim, de dentro para fora, me encho de fé.

(Célia Musilli em Todas as Mulheres em Mim/ Editora Kan e Atrito Art/2010)

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