Por Toda
Letra em 7 de janeiro de 2013
Chuva
forte lá fora, os raios e os trovões acendem ecos do passado. Aproveito para
ficar enrodilhada no sono leve, tão leve que não resiste às palavras de meu
amigo que mora comigo. Ele tem o hábito de ler em voz alta. Frase por frase são
lidas, depois relidas apenas mexendo os lábios e, por fim, ele fica repetindo a
frase em sua cabeça, com o livro entreaberto no colo, os olhos mirando o teto.
Depois vem outra frase, e assim por diante.
Acompanho
sua leitura, algumas vezes também olho para o teto, em outras me encosto em seu
corpo morno e ele, tão concentrado, apenas passa a mão em minha cabeça. Hoje
está um dia para meditar: a chuva é fértil para os que sabem aproveitá-la. Já
que não dá para sair, o jeito é pensar!
Mas
pensar me dá sono e logo volto a me enrodilhar e dormir. quando acordo me vem
uma das frases, lidas ontem, na cabeça: “penso, logo, existo”. Eu penso, logo
existo? Será? Será que meu amigo realmente pensa? Será que ele existe? Mas…se a
cadeira e o sofá não pensam… não existem? Ou será que os criei porque penso?
será que eu realmente penso ou será que eu imagino o tempo todo?E qual é a
diferença entre eles? pensar não é imaginar? O que é real? O que é ilusão?
O que é
um simulacro? Sou um simulacro? Um lacre simulado fechando uma torrente de
coisas que eu sou? tantas máscaras impostas desde a infância que fica difícil
saber quem realmente sou. Procuro os rótulos dados pelos outros e insisto em me
encaixar em um ou outro (geralmente os mais aceitos pelas pessoas).
Todos
esses pensamentos me foram esmagados pela realidade, pois meu amigo deixou o
livro de Baudrillard de lado, me chamou “venha Susi Sontag”, seguido de um pst,
pst e colocou leite em minha tigela.
Susan Blum
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