Abordou-me em frente à
'Brasileira', na fria tarde
de Janeiro. Hesitante,
segurava uma mochila preta.
Pensei que ia pedir uns trocos,
cigarros, respostas inúteis
a um inquérito de passagem.
Enganei-me. Afinal, estamos
todos demasiado habituados
a dizer que não. Queria apenas
saber se eu gostava de prosa
- ou de poesia. Se gostasse,
tinha um livro para me mostrar, dela,
que vendia com dedicatória e tudo.
Embaraçado, não quis ver
- e caiu-me redondo o sorriso,
ao perceber-lhe no rosto o desânimo.
A culpa, essa, chegou pouco depois.
Nunca saberei se falava
com a melhor ou a pior
poeta da minha geração.
Mesmo em frente à 'Brasileira',
sob o frio irrespirável de Janeiro.
Manuel de Freitas. poeta português
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