segunda-feira, 11 de junho de 2018

IMPRECISÃO


IMPRECISÃO         


O que mais espanta

é o homem sempre

querer-se exato.


Pois sua medida

perde-se nas frinchas

de seu próprio ato.


E, se o ato trinca,

permite o assalto

da imprecisão.


E esta, insolente,

espalha-se por tudo

(grama pelo chão).


Feito epidemia,

todos contamina,

alhures e aqui.


E o homem, pego,

perde a medida,

perde-se de si.


E, uma vez perdido,

o homem se lança

ao léu das palavras.


Mas estas, latentes,

menos se revelam

quanto mais se cava.


Mas revelam o homem,

que, à sombra delas,

tenta se esconder.


Ele, então, desnudo,

mostra-se inteiro

em um outro ser.


Só assim, desfeito,

o homem se refaz

da potência ao ato.


E, ao refazer-se,

torna-se completo,

ainda que inexato.



Edelson Nagues

Do livro Águas de Clausura (Scortecci Editora).
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