Laços se estreitam na ausência?
Não.
Vão se afrouxando... se alargando... até se transformarem em
fita/
Às vezes encontram as mãos de um artista que lhe dá alma,
lhe dá vida/
Às vezes não se tornam mais do que retalhos, sem destino,
sem guarida/
Só sombra sem rumo, desfiados, presos no fio, perdidos na
via/
Laços que duram pra sempre são bons?/
Quem Sabe?/
Dependem da simetria das voltas, da firmeza e elegância do
tecido/
Há aqueles que mantêm seu frescor, de tanto amor neles
contido /
Outros, num canto esquecidos, vão murchando... ficando
remendo de nó/
Só lembranças de laço. Só memórias tristonhas. Que dó/
Laços escondem presentes da alma?/
Talvez/
Podem enfeitar caixas vazias, embrulhos de última hora,
carinhos quentes/
Dependem da delicadeza dos dedos, do movimento das voltas,
se ficará pra sempre/
E, às vezes quase laços, imaturos, com o tempo se
transformam em laços seguros/
Brilham aos olhos com doce bravura, sendo vistos até mesmo
no escuro/
Laços vão desbotando no tempo?/
Sim./
Mas, mesmo pálidos são bons em carregar histórias reeditadas
no agora/
E serenos, ali longo tempo dentro de um livro, confortam a
alma de alguém que chora/
Porém, quando esquecidos num canto, esperando, amassados,
torcidos pra sempre/
À espera da hora, nem fita, nem linha, enfeitam o nada,
mesmo sendo ainda querentes/
Já fiz muitos laços/
De couro, de corda, brim, seda e cetim. Alguns caprichei
feito último laço/
Neles me demorei, empenhei o antes e agora... mas, por
ironia, o laço que via, nunca gostei/
Outros fiz com desdém, pois eram só laços sem graça, sem
cor, sem cheiro, jamais terminei/
Alguns... paixão eu senti, pensando que laço, desfeito,
enrolado, virasse brinquedo/
Sempre perfeito, sem marcas, dobrinhas, não causassem
tristeza, nem cheiro de medo/
Comprei muitos deles/
De listas, de bolas, pintados à mão, feitos no oriente,
trançados e duplos/
Mas este... que agora faço, quero curtir cada passo, cada
laçada, cada desejo que guarda/
A trama da fita, o matiz nele curtido, o som que, em cada
volta, acaricia a alma/
O silêncio de cada mirada, os relevos, depressões nele
gravado, toda no laço me uno/
Profundo, ardente, complacentemente calmo, nele durmo
abraçada, maciez em veludo/
E sinto, mesmo estando mudo, que hoje sei e posso, enfim,
fazer o meu laço/
Maria Regina Alves
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