faço a barba
um dia depois de entregar
seu corpo à terra
e descubro
no rosto, no gesto
outra forma
de sua presença
um pouco na pele
no queixo, outro tanto
no arco da testa
e uma lição
que, lento, aprendo
escapa ao esforço
da lâmina
fazer a barba:
varrer a véspera,
preparar – em pé –
a jornada nova
eis a vida – mínima:
enfrentar todo dia
a luta do dia
eis a sina – sísifa:
saber que amanhã
há outra via
persigo no espelho
minha barba rala (que
tantas vezes me vence
e arrasta a noite
nas fibras do dia) desvendo
na lágrima
que corta a cara
torta a palavra
alegria
Tarso de Melo
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