segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Lenda do Corcunda das Mercês e os Túneis de Zulmiro




No século dezenove, dona Quitéria ficou grávida sem se casar, pois teve um romance com o marido da sua melhor amiga, a bruxa Júlia, que estava escalada para ser sua comadre. Mas, o marido da feiticeira confessou toda a verdade, então Júlia ficou com raiva e jogou a seguinte praga:
- Tomara que seu filho nasça corcunda.
Os meses se passaram e Quitéria, deu a luz a um menino, com o nome de Augusto, que a cada ano que passava ficava mais corcunda. Apesar do seu problema de coluna, Augusto tinha uma bela voz e era um excelente artesão.
Um certo dia, ele foi passear no Bosque Gutierrez, quando decidiu descansar perto de um poço abandonado. Mas, de repente, este jovem ouviu um coral melodioso, de dentro daquele poço, cantando assim:
- O pirata Zulmiro escondeu o seu tesouro,
A cigana Hortênsia e todo o seu ouro...
Eles moram no túnel secreto
E não querem ninguém por perto!

- A cobra do Paraná mora lá com fervor...
Mas, ela não é um monstro cheio de terror...”

Assim, Augusto resolveu cantar a música e criar uma última frase:

- O pirata Zulmiro escondeu o seu tesouro,
A cigana Hortênsia e todo o seu ouro...
Eles moram no túnel secreto
E não querem ninguém por perto!

- A cobra do Paraná mora lá com fervor...
Mas, ela não é um monstro cheio de terror,
Pois, o que ela precisa é de amor!”
Depois desta cantoria, Augusto viu que um pirata apareceu de dentro do poço e disse-lhe:
- Boa-tarde, sou Zulmiro!
- Parabéns, você canta muito bem. Por isto quero que você venha até a minha casa subterrânea e aceite um pouco do meu tesouro como presente pelo seu talento.
Assim, o corcunda foi para debaixo da terra junto com o corsário. Lá, ele conheceu Hortênsia, uma cigana que era casada com o pirata, uma freira, um padre e uma enorme cobra sonolenta. Desta maneira, Zulmiro presenteou Augusto com uma parte de seu tesouro e a cigana disse:
- O tesouro é o presente de Zulmiro para você.
- Porém, o meu regalo será uma magia que tirará a corcunda das suas costas.
Então, Hortênsia tocou na coluna de Augusto e sua corcunda sumiu.
Além disto, o corsário comentou:
- Sempre que você vier aqui, ensaiar com o nosso coral, darei uma parte do meu tesouro.
Desta maneira, o corcunda morava na terra aqui com sua mãe, mas de vez em quando ia aos subterrâneos de Curitiba para cantar com os seus moradores.
O principal problema era que o desaparecimento da corcunda em Augusto, chamou a atenção dos conhecidos ao seu redor. Desta maneira, a notícia se espalhou de boca em boca e chegou até Buenos Aires, na Argentina, onde morava um rapaz chamado Manolo, que também sofria com uma enorme corcunda. A mãe do referido moço, dona Consuelo, ao saber da estória de Augusto, tratou de trazer seu filho para Curitiba com o intuito de ter a mesma cura que o outro jovem. Ao chegar à nova cidade, Consuelo perguntou para Augusto:
- Como você conseguiu a cura para sua corcunda?
O moço, resumidamente, explicou:
- Eu fui até o bosque, cantei perto do poço, o pirata Zulmiro gostou da minha voz e a esposa dele, cigana Hortênsia, me curou.
Então, no dia seguinte, Manolo foi até o poço do bosque e começou a cantar, desafinadamente, com seu timbre de taquara rachada. De repente, um pirata, surgiu de dentro do poço e disse-lhe:
- Rapaz, venha comigo até a minha morada subterrânea nos túneis de Curitiba.
Ao chegarem ao local, Hortênsia disse:
- Moço, você canta tão mal que, por castigo, lhe darei uma outra corcunda, que era de Augusto.
Então, a cigana tocou nas costas de Manolo, que ficou com outra corcunda. Assim, o pirata trouxe o rapaz de volta à superfície e Consuelo ficou desesperada com o que aconteceu. Manolo morreu alguns dias depois e surgiu a lenda de que no Bosque Gutierrez existe um poço desativado e que ninguém pode cantar mal perto dele.
Luciana do Rocio Mallon

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