No século dezenove, dona Quitéria ficou grávida sem se
casar, pois teve um romance com o marido da sua melhor amiga, a bruxa Júlia,
que estava escalada para ser sua comadre. Mas, o marido da feiticeira confessou
toda a verdade, então Júlia ficou com raiva e jogou a seguinte praga:
- Tomara que seu filho nasça corcunda.
Os meses se passaram e Quitéria, deu a luz a um menino, com
o nome de Augusto, que a cada ano que passava ficava mais corcunda. Apesar do
seu problema de coluna, Augusto tinha uma bela voz e era um excelente artesão.
Um certo dia, ele foi passear no Bosque Gutierrez, quando
decidiu descansar perto de um poço abandonado. Mas, de repente, este jovem
ouviu um coral melodioso, de dentro daquele poço, cantando assim:
- O pirata Zulmiro escondeu o seu tesouro,
A cigana Hortênsia e todo o seu ouro...
Eles moram no túnel secreto
E não querem ninguém por perto!
- A cobra do Paraná mora lá com fervor...
Mas, ela não é um monstro cheio de terror...”
Assim, Augusto resolveu cantar a música e criar uma última
frase:
- O pirata Zulmiro escondeu o seu tesouro,
A cigana Hortênsia e todo o seu ouro...
Eles moram no túnel secreto
E não querem ninguém por perto!
- A cobra do Paraná mora lá com fervor...
Mas, ela não é um monstro cheio de terror,
Pois, o que ela precisa é de amor!”
Depois desta cantoria, Augusto viu que um pirata apareceu de
dentro do poço e disse-lhe:
- Boa-tarde, sou Zulmiro!
- Parabéns, você canta muito bem. Por isto quero que você
venha até a minha casa subterrânea e aceite um pouco do meu tesouro como
presente pelo seu talento.
Assim, o corcunda foi para debaixo da terra junto com o
corsário. Lá, ele conheceu Hortênsia, uma cigana que era casada com o pirata,
uma freira, um padre e uma enorme cobra sonolenta. Desta maneira, Zulmiro
presenteou Augusto com uma parte de seu tesouro e a cigana disse:
- O tesouro é o presente de Zulmiro para você.
- Porém, o meu regalo será uma magia que tirará a corcunda
das suas costas.
Então, Hortênsia tocou na coluna de Augusto e sua corcunda
sumiu.
Além disto, o corsário comentou:
- Sempre que você vier aqui, ensaiar com o nosso coral,
darei uma parte do meu tesouro.
Desta maneira, o corcunda morava na terra aqui com sua mãe,
mas de vez em quando ia aos subterrâneos de Curitiba para cantar com os seus
moradores.
O principal problema era que o desaparecimento da corcunda
em Augusto, chamou a atenção dos conhecidos ao seu redor. Desta maneira, a
notícia se espalhou de boca em boca e chegou até Buenos Aires, na Argentina,
onde morava um rapaz chamado Manolo, que também sofria com uma enorme corcunda.
A mãe do referido moço, dona Consuelo, ao saber da estória de Augusto, tratou
de trazer seu filho para Curitiba com o intuito de ter a mesma cura que o outro
jovem. Ao chegar à nova cidade, Consuelo perguntou para Augusto:
- Como você conseguiu a cura para sua corcunda?
O moço, resumidamente, explicou:
- Eu fui até o bosque, cantei perto do poço, o pirata
Zulmiro gostou da minha voz e a esposa dele, cigana Hortênsia, me curou.
Então, no dia seguinte, Manolo foi até o poço do bosque e
começou a cantar, desafinadamente, com seu timbre de taquara rachada. De
repente, um pirata, surgiu de dentro do poço e disse-lhe:
- Rapaz, venha comigo até a minha morada subterrânea nos
túneis de Curitiba.
Ao chegarem ao local, Hortênsia disse:
- Moço, você canta tão mal que, por castigo, lhe darei uma
outra corcunda, que era de Augusto.
Então, a cigana tocou nas costas de Manolo, que ficou com
outra corcunda. Assim, o pirata trouxe o rapaz de volta à superfície e Consuelo
ficou desesperada com o que aconteceu. Manolo morreu alguns dias depois e
surgiu a lenda de que no Bosque Gutierrez existe um poço desativado e que
ninguém pode cantar mal perto dele.
Luciana do Rocio Mallon
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