. De Mara Paulina Arruda
Vamos combinar: ser rei já é difícil, imagine ser rei com o
pé torcido! Naquele tempo nem tinha fisioterapia; só um clínico geral, se é que
a gente pode chamar assim... Um empregado, um súdito ou sei lá quem ouviu os
ais do rei e foi ter com ele uma conversa tipo assim: meu rei precisa de alguma
coisa? O rei sem perder a calma, controlando os seus nervos
disse: eu torci o pé. Ajude-me a sentar naquela poltrona e
chame, imediatamente, um médico. Chame o Dr. Leônidas (que tal o nome desse
médico?). Bom, o Dr. Leônidas foi chamado e, como todo médico demorou um par de
horas... dizem que ele estava fazendo um parto! Mas isso são horas de fazer
parto, perguntou o rei. A cozinheira que vinha com paninhos quentes numa mão e
chás na outra disse: meu rei quando a criança quer nascer não tem hora!
Dr. Leônidas ao chegar no castelo olhando por cima dos
óculos, sem titubear, a primeira coisa que ele perguntou foi: nesse castelo não
tem mulher? O rei olhou para o empregado e o empregado fez um jeito irônico que
o rei contrariou e disse: mas ora vejam até aqui um rei precisa de mulher??!
Vixe! E o Dr. Leônidas olhou para o rei e o rei olhou para ele que disse: deixe
de lengalenga e apresse-te doutor que esse pé está doendo pra caramba e das
minhas intimidades cuido eu.
Dr. Leônidas, um pouco envergonhado, desculpou-se e
perguntou como é que isso aconteceu. Não me venha dizer que foi numa luta. Ou
quem sabe numa escada! Todos os reis resolvem cair ou torcer o pé numa bendita
escada ou em alguma batalha dessas que tem por ai e que são muito chatas. Aonde
foi? Diga-me lá meu rei!
O rei começou a contar, entre gemidos, o causo que terminou
nesse acidente: Doutor eu estava passando de uma prateleira para a outra os
meus livros. Sabe, mandei fazer uma estante nova, toda laqueada e com vidros
numa parte para proteger os livros mais antigos. Sabe como é que é: esse tipo
de livro é um documento, uma relíquia, um objeto de arte que precisa ser
protegido. E, no meio do trabalho ouvi uns acordes de violoncelo e violino que
vinham da rua. Fui me aproximando da janela quando no meio daquela gente vi uma
donzela de cabelos ruivos, que se vestia com saia e blusa branca. Ela estava
encantadora e fazia gestos como se fosse uma maestrina... Eu sucumbi com tanta
beleza! E ao voltar para o meu trabalho entre os livros torci o pé no seco do
chão da biblioteca! Agora, vê-se pode uma coisa dessas?
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