Mar
Becker
não sei que horas eram.
o anão metafísico sentiu o estômago revirar e em
questão de segundos vomitou tudo. ad infinitum. alguém esperava do outro lado
da porta, se não me falha a ideia. ou? você via um cachorro montando nos
quadris
de sua própria sombra. como a loucura, talvez: suas
paredes,
sua antimatéria em 3d.
*
considere-se uma relação direta entre o anão, o
cachorro e a sombra. essa relação, em qualquer mundo possível, dá origem ao que
hoje em dia chamamos "dízima periódica de órfãos". segundo os
especialistas, evidentemente.
segundo minha vontade de ir embora.
*
que se conte alguma coisa
sobre os órfãos?
o mais novo assassinou um louco e pendurou partes
de seu cadáver nos silêncios do inverno. o sangue escorreu aqui e ali, durante
noites, até formar precisamente 666 poças. dizem que não há fundo em nenhuma
delas.
cúmplice da brutalidade, você teve sede
e bebeu desse sangue.
*
o do meio cansou de esperar e bateu à porta outra
vez, TOC-TOC-TOC
(obsessiva e compulsivamente).
*
o mais velho deixou um bilhete de despedida
dentro do livro em que consta
este poema.
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