Somos os filhos
Que a mãe tem vergonha
De mostrar para a visita.
O forasteiro é bem recebido,
Mas sai falando mal
Mesmo com o rabo cheio.
Enquanto os filhos da dona da casa
Roem os restos no porão.
Somos os filhos
Que a mãe,
Se pudesse,
Abortaria.
Somos os pobres,
Os favelados,
O resto;
Somos os filhos
Que tiveram o azar de nascer.
André D' Soares
Delírios de um escritor miserável
Onde o camponês não pode pisar
Caminhando pelas terras do manso senhorial,
Pelas ruas nobres de São Paulo,
Percebi que os senhores brancos e ricos
Dilataram suas pupilas e se afastaram
De mim às pressas;
Ficaram com medo por algum motivo.
Talvez pela roupa suja de camponês,
Com furos, que eu usava;
Pelos chinelos remendados da Ipanema.
Talvez pela minha cor escura
Ou pelas marcas de sofrimento em meu rosto.
E os seguranças,
Que haviam nascido no mesmo berço que o meu,
Que resolveram vender suas almas
Para proteger aqueles senhores,
Seguiam-me com suas algemas já abertas
E seus revólveres prontos para cuspir balas.
André D' Soares
Delírios de um escritor miserável
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