sábado, 7 de outubro de 2017

o verão fede a esponjas mortas na praia


● os animais dormem e sonham duramente ●
● tudo q é verde na agua com o vento murmura ●
● ao longe a cidade silencia como um degolado ●
● aves vieram imensas como sempre com o sol ●
● o deserto ao redor se move como uma serpente ●
● tudo parece bem tudo ja aconteceu e vibra ●
● mas nabucodonosor não morreu ●
● essa lua descontrolada exige mais vinho ●
● exige mais corpos exige aqui outro tempo ●
● quando se sentia na pele na carne nos ossos ●
● o fedor das esponjas mortas na praia ●
● vinham escravos e nos confortavam ●
● como é devido e é certo e faz bem ao q vive ●
● mas nabucodonosor não morreu ●
● não se espera uma vida inteira e longa ●
● o fino fio duma faca nos pulsos profundamente ●
● apenas aqui olhando a cidade o rio o deserto ●
● q jamais mudara o rumo das coisas ●
● apascentar o desejo o nojo o horror a alegria ●
● quem sabe não seja essa a alegria maior ●
● mas nabucodonosor não morreu ●
● segue o fio de sangue pelo marmore furtacor ●
● ao longe um cão uiva mas a cidade dorme ●
● como uma monstruosa esponja morta na praia ●
● isso doi mais q o fino fio da lamina nos pulsos ●
● qualquer dia desses tudo sumira no vazio ●
● nada tera mais valor existencia ou sentido ●
● mas nabucodonosor não morreu ●


 Alberto Lins Caldas


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