Eu e meu irmão gêmeo, fomos muito amigos e unidos. Ele acorbertava minhas travessuras e eu as dele. Quando nós tínhamos uns 14 anos e como meu pai, meus tios e uma tia solteirona fumavam, resolvemos também experimentar, pois víamos com que satisfação e elegância eles degustavam o tal cigarro.
Então falei para meu irmão: — olha, vamos no armazém do seu Otto comprar “no caderno” um maço de mistura-fina, que é o cigarro que o papai fuma e sempre nos pede para ir lá buscar. — E o papai nem vai perceber, completa meu irmão, lembrando também dos fósforos.
Foram os 11 segundos (e não os 11 minutos) mais vibrantes da minha vida. Num local isolado do sítio onde morávamos, meu irmão, tal como um cavalheiro, após acender o seu cigarro, gentilmente me ofereceu um. Foi muita emoção, pegá-lo, colocá-lo na boca, acendê-lo e dar a minha primeira baforada. Uma das poucas, pois, não adquiri e não tenho o hábito de fumar.
Depois daquela emoção toda, veio a pergunta: como voltaremos para casa com cigarro e fósforo ? Escondemos tudo num oco de uma árvore perto dali. Evidente que não comentaríamos com ninguém aquela nossa ousadia. Se nossa mãe ou nosso pai soubessem daquilo, um castigo severo, ardido e doído viria com certeza.
Foram mais duas ou três tentativas para tornarmo-nos fumantes. Desistimos da idéia, pois não compensava o mal estar causado e a tensão de um flagra. Gosto e cheiro ficavam na boca, o que poderia denunciar-nos. Balas de hortelã que eram mais gostosas e mais baratas que cigarro, completavam nosso ritual fumígero.
Meu irmão Dirceu, viria a falecer 3 anos depois, num acidente de caminhão, o que em mim provocaria um forte impacto. Forte a ponto de, com freqüência, ele aparecer-me em visões e quase que diariamente em sonhos. Por anos, evitei os lugares no sítio onde brincávamos, tampouco passei por perto daquela árvore, onde num oco, escondíamos o cigarro e mantínhamos nosso segredo.
Certamente ninguém soube da nossa aventura tabagista, pois jamais ouvimos comentários ou insinuações sobre nos virem ou ouvirem que fumávamos escondido.
Eu casei, minhas irmãs casaram, meus irmãos também casaram. A minha irmã caçula, Dulcinete, foi a última a casar-se. Quando o filho dela João Dirceu (uma homenagem ao nosso irmão falecido) tinha cinco anos, numa ocasião em que eu e ele estávamos sózinhos, inesperadamente, falou-me: — lembra tia, quando nóis tinha quatorze anos e guardava o cigarro na árvore ?
Naquele momento me voltaram lembranças do meu irmão morto há quase 30 anos.
Voltei a sentir o gosto e o cheiro daqueles poucos cigarros fumados.
Aquele episódio, que já tinha me esquecido, nunca o revelei a ninguém. E tenho certeza de que meu irmão Dirceu também nada daquela história dos cigarros, houve contado ou comentado com alguém. Era um segredo nosso. Ninguém poderia ter relatado aquilo para meu sobrinho João Dirceu.
E nas vésperas do nascimento dele, meu irmão falecido me apareceu dizendo que estava preparando-se para voltar. E considerando, não só o comentário do pequeno João Dirceu, sobre os cigarros e muitas outras semelhaças e coincidências, de temperamento, comportamento e atitudes, meu sobrinho é a reencarnação do meu irmão Dirceu.
Osiris Duarte de Curityba
Publicado no Recanto das Letras em 22/09/2008
Código do texto: T1191321
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