terça-feira, 15 de janeiro de 2013



Quando ele falou em agradecimentos virei às costas. Tinha desenhado, num guardanapo, um croqui para começar uma pintura. Meu corpo. Fixei meus olhos nele. Ele parou de desenhar e disse: meu eu e meu ser estão em ti.

Sai a caminhar. Juntei grimpas e arrastei-as no asfalto. Era madrugada. Tínhamos jantado num restaurante novo e nos sentíamos bem. Quer dizer, mais ou menos bem. Eu preferi caminhar sozinha – disse: não me siga. - e fui dentro de mim a analisar- não queria compreender- os segredos do coração.

No percurso parei para ver um pedaço quebrado de asfalto que tendia para um craquelê imitando uma rosa. (Ah, essa mania de encontrar formas na vida!) No contorno, podia ver o chão batido, a estrada atemporal, a terra, a cor marrom que dá vontade de tocar. E os espinhos estavam em mim que sou parte dos que quebram e que não tem dó deste globo chamado terra. Vi no canto de uma construção a carcaça de uma geladeira, panos, restos e moscas. Um casal se esfregando perto delas. As crianças por ali a roerem ossos perdidos.

Analogia, hipérboles, figura de linguagem para estancar a dor. Discursos ambientalistas de quem não sabem o que fazer comigo e contigo. Arrastei as grimpas na calçada quando ouvi passos e o avistei fumando. Tinha me seguido.

Mas o que é isso? Isto está se parecendo com uma parte de um romance... que pretendo escrever...

Mara Paulina Arruda

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