Juntar as garrafas na prateleira entre aranhas e arames,
novelos de barbante e martelos. Empurrar as caixas de pregos, os vidros e
la-tas de tinta para colocar os olhos. É preciso esquecer os mapas, cadarços,
jornais velhos. Queimar fotografias, lembranças, almana-ques farmacêuticos.
Afastar um pouco as caixas de papelão, para depositar o nojo. Empilhar, junto
às revistas, os ossos, palavras e ódios. Deslocar toda sombra, que fere como um
ácido. Acender o cigarro no maçarico, cuspir catarro com alcatrão e soletrar,
com a voz ainda trêmula, as sílabas abertas da navalha.
Claudio Daniel
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