quarta-feira, 7 de maio de 2014

Garrafas

Juntar as garrafas na prateleira entre aranhas e arames, novelos de barbante e martelos. Empurrar as caixas de pregos, os vidros e la-tas de tinta para colocar os olhos. É preciso esquecer os mapas, cadarços, jornais velhos. Queimar fotografias, lembranças, almana-ques farmacêuticos. Afastar um pouco as caixas de papelão, para depositar o nojo. Empilhar, junto às revistas, os ossos, palavras e ódios. Deslocar toda sombra, que fere como um ácido. Acender o cigarro no maçarico, cuspir catarro com alcatrão e soletrar, com a voz ainda trêmula, as sílabas abertas da navalha.

Claudio Daniel

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