domingo, 23 de dezembro de 2018

A luz de Iorranã




O pijama de uma mulher morta
tem as latitudes do meu corpo
e o tom de azul dos que acreditam num céu.
O pijama da mulher morta
é agora de minha mãe.
Eu o visto na noite absoluta.
Transtornada na pálpebra da insônia.
Eu me aproprio da forma insegura do vazio.
Da dor de uma mulher morta.
Sou mais alta e mais magra.
Nunca se deu por vencida.
Ressaltam os pequenos seios
que se tocados se enfurecem.
Há algo do que não viu e do que não bebeu
varrendo o desencontro.
Há a certeza do cuidado pela forma
lancinante do amor.
Não nos vimos.
Eu a visto.
Acabo de matar um inseto.
Visto uma mulher morta.
Roberta Tostes Daniel

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