sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Dr

Grande demais, todas as coisas tornam-se grandes demais. Logo após, pequenas, contraindo e se expandindo numa medida incalculável de sensatez. Veste o mundo de razão, numa qualquer razão destrambelhada e assim, respira, enxerga, como de dentro para fora; noutras vezes, de fora para dentro. Uma batida de coração, um ar mais profundo vindo de um lugar além, uma dor que doía quando não sabíamos de nada. E sabíamos? Doía tão vagarosamente, naquele compasso manso, como uma longa espera na saleta do consultório médico... e doía tanto, de uma coisa infundada mas um pouco real, um medo além e no entanto, terreno.
Como pupilas na escuridão e as pálpebras que não se fecham. E tudo o que não se move. Vasculantes e tudo o que paira no ar de maneira amena, - estou nos segundos de ontem, que esperavam pela mesma coisa de hoje, e provavelmente nos segundos de amanhã que ainda estarão esperando por nada ou além - como se acontecesse, suspiro aliviada, porque a dor não chegou como nas outras manhãs. Não foi tão dor, mas também, não veio como pouca dor. Foi dosagem e medida, numa dessas tempestuosas sensações e... a dor! Não afirmo que essa dor seja a mesma de todos os dias, nem que a de todos os dias se repita exaustivamente, mas na somatória, no indivisível, dor colando em dor, em alguns dias, dor se anula com dor, noutros, o nulo se faz presente e adiciona um pouco mais de ruído, e doía como antes.
Se visse eu, como me vejo aqui, no passado, não iria doer. E no mesmo passado, não iria existir. Sou nascida de sensações irrisórias e claustrofóbicas, vindo de mim mesma, e nasço há cada dia, num canto diferente e num lugar qualquer. Se quisesse eu mesma, contraída numa razão sobre a existência; nada seria, e eu não existiria. Existo por instinto, e penso por conveniência, por tudo que sinto, há um primeiro passo antecessor que me faz aguilhão e coragem. E justamente nesses pedaços de tempos que não voltam nunca mais, me faço. Para refazer o que fiz no outro dia tem de haver um novo aguilhão e uma nova coragem, se demorar, fico aqui, estagnada - se vier depressa demais, não acompanho o desprendimento com totalidade. É que estou na busca da terrível aceitação e quando tudo passa, pareço um outro qualquer, já não sou quem eu era e nem imagino quem eu seja. Estou em um lado que não quis estar e estou, também, aqui; com o tempo que há de passar.


Juliana Vallim

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