Elegia do abandono
Ante teus olhos minha alma impura, mas transparente
E a atravessastes como o fio de uma espada
E a olhastes como se ali houvesse nada
Sequer viste qualquer desvairada, mendiga ou indigente
Feriste-me outra vez, e nem te amaldiçôo
Mas por teres me abandonado novamente
Por teres tua alma afastado de mim de repente
Por isso, Maria, também não te perdôo
E por não teres me confortado quando em teus braços
Por não teres me acariciado se ao alcance dos dedos
Por não teres me ofertado um de teus sorrisos escassos
Por não teres ofertado teus ouvidos a meus segredos
Por não teres dado refúgio à inocência da pouca idade
Por não teres te perturbado com a silenciosa conduta
Por não teres percebido minha miséria absoluta
E por teres confundido tristeza com maldade
A, por não teres me doado um pensamento neutro
Nem, por um instante, dedicado um resquício de doçura
Minha alma tem num calabouço aprisionada a ternura
E também o teu perdão dorme profundamente lá dentro
Iriene Borges
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