(...)Escrevo-te entre palpitares de alegria e gotas de
intimidade.
Escrevo-te em línguas desconhecidas para que só tu,
andarilho dos desertos, decifre meus respirares e suspiros, através dos
pergaminhos escolhidos, adivinhar na vastidão das areias quentes e do sol,
todos os meus mantras e elegias.
Escrevo-te queimando numa febre suspensa de prazer, que
devora-me entre as pernas até o arrepio sombrio do meu êxtase ao reviver o
orgasmo das orquídeas.
Escrevo-te num gemido abafado e numa suspensa epifania.
Os meus dedos não cessam de escrever para ti, entre o suor
da palma e a arritmia.
Só tu, escriba das andanças tardias poderá salvar-me do
sonambulismo da existência, quando o nada perpetua meus dias.
Só tu, espírito livre e selvagem poderá despertar os anos da
juventude em redemoinhos vigorosos onde a razão não habita.
Escrevo-te perdida e suja, entre papéis de oficios e
serviços que não termino.
Escrevo-te na masmorra e no tricotar das horas que esvaem-se
para além das floradas que situam o amor como tinta que fixa imagens, ao
derramar verdades que não sabíamos existir.
Luciana Brites
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