domingo, 19 de outubro de 2014

BALANÇOS


I .
Após tantas lidas,
deslindes e vindas,
constatamos pasmos
que a procura em si
foi melhor que o encontro,
o convite, então,
superior à festa,
e o sonho maior
que a ansiada posse...
De todas as vidas
melhor foi aquela
que não se viveu,
e de todas as rotas,
aquela que a Rosa
dos Ventos jamais
conheceu. (A vida
é a carta esperada
que nunca chegou.)
II.
Por que perturbamos
o fluxo dos dias
com nossas retinas
cheias de cobiça?
Melhor descansar
e esperar que o outono
leve enfim as folhas
do verão fanado
e nos acostume
ao sono sem sonhos
que em breve seremos.
III.
Irmãos, malogramos.
Nem poderia ter
sido de outro modo:
na vida se joga
de antemão sabendo-se
que se vai perder.
Antes, nada fôssemos.
Ou, se o não-ser
nos fosse negado,
nada desejássemos,
nem ouro nem louros
(o cetro do eparca,
a lira do bardo,
o cajado do sábio),
que a luta é ingente
e o resultado parco,
o querer tão grande
para um galardão
afinal tão ínfimo
– e, não bastando isso,
são tantas perguntas,
tão poucas respostas...
Pois se nada fôramos,
nada saberíamos
das dores do mundo,
nada deveríamos
às coisas do mundo,
deste mundo que
(perdoem-me o óbvio)
passa e nada deixa,
nem mesmo uma sombra,
a sombra de uma sombra,
assim como o seixo
atirado ao lago,
depois dos concêntricos
círculos que abre,
não deixa vestígio,
saudade ou memória
nas plácidas águas...
Assim, nesta hora,
quando a noite cai
por sobre os salgueiros
(a noite que estende
seu manto funéreo
sobre reis e príncipes,
mendigos e párias),
não estaríamos,
com os olhos cheios
de vã nostalgia,
contemplando as flores
– pobres flores tóxicas! –
nascidas do estrume
em que resultou,
malograda, a vida.
Olw








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