quarta-feira, 4 de dezembro de 2019


Escreve-se por excesso ou por lacuna. No primeiro caso, a vida extrapola a vida e é necessário pôr este plus no papel. A vida transborda e este transbordamento vira literatura. É o caso de Rimbaud, de Pagu e Oswald, dos beats... No segundo, escreve-se porque "a vida só não basta", como disse Pessoa. Nesse caso, escreve-se para se criar outros mundos ou para suprir este mundo das coisas que faltam. O melhor exemplo é o próprio Pessoa. Mas todos os românticos e os simbolistas, e boa parte dos modernos, podem ser colocados aí. A vida é pouca, é insuficiente, e se escreve para preencher esta falta, este vazio. Mas tanto num caso como no outro não há coincidência entre vida e literatura. Sempre há uma assimetria, uma não-identidade. Superávit ou déficit. A literatura nasce dessa incontornável dissonância.

Otto Leopoldo Winck

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