terça-feira, 10 de dezembro de 2019

SONHO DO VESTIDO VIOLETA




“Le reveur de la nuit ne peut énoncer un cogito”

Descobri o cadáver muito mais tarde
no meio de uma viagem.
Passava por regiões
de passado futuro
o trem atacado por índios atarefados
ruínas negras de megalópolis de concreto
E tendo achado o cadáver
soube que me haviam enterrado
com meu vestido de seda violeta
um vestido precioso anunciador
da precognição da morte.
Então determinei
que desencarnassem o cadáver
e enterrassem a ossada límpida, polida
numa cova de terra úmida
enquanto a multidão de índios
sem real perigo
cercava o cemitério
mas depois se dedicava à tarefa muito mais séria
de destroçar as vigas que sustentavam nosso teto.

Vera Pedrosa Martins de Almeida (Rio de Janeiro, 1936) é carioca, poeta, crítica de arte, diplomada em filosofia 


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