domingo, 28 de agosto de 2016

Casa


"O importante não é a casa onde moramos.
Mas onde, em nós, a casa mora."
- Mia Couto

Às vezes constroem-se imponentes casas de madeira,
Às vezes impotentes castelos de areia.
Falando em outras épocas:
Não houve regras nem mesmices,
Nem de outros, quaisquer palpites,
Nunca deixei; (fui menino traquinas).
Até hoje em dia quando me apontam o dedo,
Aponto um lápis.
Na puerícia fui um príncipe - fui plebeu,
Fui o princípio das brincadeiras – fui o fim, pois também fui o rei.
Por essa razão ou outra, talvez,
Não existe agora, nesse tempo,
De um insatisfeito, nem um ínfimo resquício.
Vivia o hospício bem-vindo de um artista,
Vivia o “agora” sem a vil bola fora,
Que condiz com qualquer aprendiz.
Na parede da minha casa,
Descascada, carcomida,
Em linhas frenéticas de giz,
Comecei os primários esboços:
Linhas traçadas nas paredes
Do sóbrio Pollock de um metro e trinta.
O piso era velho, de taco,
E no meu quarto o desenho de um tabuleiro de xadrez.
Em frente à casa uma mangueira,
E uma mangueira para regar e tomar meu banho.
Um balanço sobre a roseira e os belos girassóis de Van Gogh...
Mas isso só em sonho.
Fui feliz naquela casa e nas outras que surgiram,
Pus meu toque ao adornar, pus a música e trouxe amigos.
Deixei o pássaro cantar, o verde crescer e o cachorro latir,
Deixei o chinelo sujo de barro na porta
E guardei a lembrança da minha mãe sorrindo.

André Anlub®

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