domingo, 28 de agosto de 2016

Vlademir Tremazul

"2160 horas...."
[...] 5:00. Acordei cedo, para ordenhar as vacas. Depois, juntado todo o leite, pu-lo em garrafas e fui a Maceió, para vendê-lo perto da Feira do Rato. No meu peito, a placa dizendo “Eu estou neste mercado, vendendo leite, mas poderia estar no laboratório, fazendo o meu mestrado. Este é o leite de alta qualidade, aprovado por cientistas de vários países. Leite da vaca da ciência brasileira, que ninguém alimenta, nem cuida dela...Só ordenha”
Isso é a heroica ciência brasileira – vender leite para sobreviver – violando o termo de compromisso do bolsista e o termo de adesão ao Programa de Pós-Graduação – é com infração às regras, mas é o mal menor. [...] Manter a ciência na “vaquinha” é o jeito... Mas não é assim que ela se mantém...Não, senhor!
11:00. Dificilmente consegui vender umas garrafas, ganhando uns quinze reais. Coisa alguma eu consigo vender por certo, porque vender é dom natural, e eu não o tenho! Isso é resultado do comportamento do governo, que transforma a vida do cientista no Brasil em jogo de azar (haja vista o fascículo anterior).
Existe uma canção portorriquenha, chamada “Lamento borincano”, cuja segunda segunda-parte é:
Pasa la mañana entera,
Sin que nadie quiera
Su carga comprar.
Ya todo está desierto,
El pueblo está muerto
De necesidad.
Se oye este lamento por doquier
De mi desdichada Borinquen.
Y triste
El “jibarito” va
Pensando así,
Diciendo así,
Llorando así por el camino –
“¿Qué será de Borinquen, mi Dios querido?
¿Qué será de mis hijos y de mi hogar?
Borinquen,
La tierra del Edén,
La que, al cantar,
El gran Gautier
Llamó la perla de los mares,
Ahora, que tú te mueres con tus pesares,
¡Déjame que te cante yo también!
É exatamente o estado, em que se encontra a ciência brasileira, também muito elogiada por seus resultados, como o Porto Rico por sua beleza, mas, mesmo assim, em xeque.

[...]

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