Críticos literários cometem erros? Sim, com frequência!
Saint-Beuve condenou a suposta "imoralidade" de Flaubert e
Baudelaire. Sílvio Romero não reconheceu plenamente o talento de Machado de
Assis. José Veríssimo condenou a linguagem “obscura” de “Os sertões”, de
Euclides da Cunha. Antonio Candido excluiu o barroco de sua “Formação da
Literatura Brasileira” e não compreendeu Sousândrade. Wilson Martins
considerava Mário Palmério superior a Guimarães Rosa -- para citar poucos exemplos.
A crítica literária, quando não segue determinada teoria literária, com um
método particular de leitura e interpretação de textos, obedece a critérios
subjetivos de gosto pessoal, e em AMBOS os casos pode cometer injustiças,
inclusive pela inadequação da teoria ao texto analisado. Isto não significa que
o trabalho do crítico seja sempre insuficiente ou inferior ao texto literário:
ele é uma intervenção paralela à obra literária e o seu mérito, quando o
crítico realiza bem a sua tarefa, está na discussão inteligente dos
procedimentos artísticos adotados pelo escritor, contribuindo para iluminar o
entendimento dessa obra. O crítico fracassa quando sua leitura não é capaz de
dar conta da proposta do autor analisado, quando valoriza excessivamente
autores de segunda ordem, por motivos nem sempre literários, ou quando
subestima autores de maior originalidade, por não compreendê-los ou por razões
de desavença pessoal, interesse comercial, orientação jornalística ou política
literária. Uma atividade de especial importância do crítico literário é a do
questionamento, ampliação ou reinvenção do cânone literário, pela inclusão de
autores de qualidade injustamente esquecidos, como Augusto de Campos fez com
Sousândrade e Pedro Kilkerry, e também pela exclusão de autores sem
originalidade e densidade semântica, cuja reputação foi construída a partir de
redes de relacionamento social próximas às instâncias de poder universitário,
editorial ou midiático (sim, esta é uma referência direta a Ricardo Domeneck,
Angélica Freitas e outros autores medíocres inventados por Carlito Azevedo). Em
todos os casos, a crítica literária nunca é mais importante que a leitura
direta dos poemas, contos, novelas ou romances. Ela própria constitui um gênero
literário, quando tem a densidade do ensaio, e pode ser considerada, para além
da dimensão argumentativa, como construção estética, como no caso dos livros de
Walter Benjamin.
Claudio Daniel
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