domingo, 4 de outubro de 2015

Críticos literários cometem erros? Sim, com frequência! Saint-Beuve condenou a suposta "imoralidade" de Flaubert e Baudelaire. Sílvio Romero não reconheceu plenamente o talento de Machado de Assis. José Veríssimo condenou a linguagem “obscura” de “Os sertões”, de Euclides da Cunha. Antonio Candido excluiu o barroco de sua “Formação da Literatura Brasileira” e não compreendeu Sousândrade. Wilson Martins considerava Mário Palmério superior a Guimarães Rosa -- para citar poucos exemplos. A crítica literária, quando não segue determinada teoria literária, com um método particular de leitura e interpretação de textos, obedece a critérios subjetivos de gosto pessoal, e em AMBOS os casos pode cometer injustiças, inclusive pela inadequação da teoria ao texto analisado. Isto não significa que o trabalho do crítico seja sempre insuficiente ou inferior ao texto literário: ele é uma intervenção paralela à obra literária e o seu mérito, quando o crítico realiza bem a sua tarefa, está na discussão inteligente dos procedimentos artísticos adotados pelo escritor, contribuindo para iluminar o entendimento dessa obra. O crítico fracassa quando sua leitura não é capaz de dar conta da proposta do autor analisado, quando valoriza excessivamente autores de segunda ordem, por motivos nem sempre literários, ou quando subestima autores de maior originalidade, por não compreendê-los ou por razões de desavença pessoal, interesse comercial, orientação jornalística ou política literária. Uma atividade de especial importância do crítico literário é a do questionamento, ampliação ou reinvenção do cânone literário, pela inclusão de autores de qualidade injustamente esquecidos, como Augusto de Campos fez com Sousândrade e Pedro Kilkerry, e também pela exclusão de autores sem originalidade e densidade semântica, cuja reputação foi construída a partir de redes de relacionamento social próximas às instâncias de poder universitário, editorial ou midiático (sim, esta é uma referência direta a Ricardo Domeneck, Angélica Freitas e outros autores medíocres inventados por Carlito Azevedo). Em todos os casos, a crítica literária nunca é mais importante que a leitura direta dos poemas, contos, novelas ou romances. Ela própria constitui um gênero literário, quando tem a densidade do ensaio, e pode ser considerada, para além da dimensão argumentativa, como construção estética, como no caso dos livros de Walter Benjamin.


Claudio Daniel 

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