sábado, 3 de outubro de 2015


Eu também fico aqui, conversando com o umbigo. Depois de tantos anos de votos de silêncio, descobri que a alegria de uma criança é a única arma capaz de dissolver uma tristeza tumular. E hoje resolvi parar para "perder tempo" e papear longamente com uma amiga, quase atrasando para chegar no início da hora da meditação zazen. Quase sempre o falatório sem fim me irrita: semana passada fugi do Museu da Língua Portuguesa, quando senti vozes transbordando poemas por todos os lados. Poesia é saber como fazer as pausas para que se ouça o som do silêncio. A conversa tête-à-tête, atenciosa e interessada é boa, mesmo que seja para "jogar fora". No final, tudo na vida é para "jogar fora": soltar no infinito. A conversa da criança é assim, um bordadozinho cheia de histórias sem pé nem cabeça. Interessada em seduzir você, mas sem segundas intenções. Queria os dias todos assim, cheios de poesia: o mergulhão súbito fisgando o peixe para comer; a criança sorrindo sem motivo; pessoas contentes por conversar um pouco mais; encontrar os livros que queria ler há tempos; alguém que te corrige e não sabe quanto bem faz; o desvio da rota / meta que se descobre mais meta e rota. Neste fim-de-semana estou meio à toa-à toa, mas tenho uns quatro livros pra me fazer companhia por isto não me sinto só.



 Marilia Kubota

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