sábado, 8 de junho de 2013

A PORTA



sou uma porta profunda, hermética, fechada a sete trancas
na obscuridade dos diademas
em cada poema que escrevo floresço como um pedaço de gelo
que arde nas mãos desta mulher, altiva como os cereais, altiva
como o cheiro das maçãs...

sou um labirinto, um labirinto como todos os
homens, uma furna engordurada de olores ancestrais,
e amo, mas amo
com a força dos bosques, amo como uma água tribal que dilacera
furiosamente os astros, amo como quem odeia

e digo: em cada palavra que escrevo quebro o nó górdio
e sinto o gume
da navalha no rosto dividido
como os olhos de um cavalo insano à beira da morte

então, ascendo a mim, ascendo ao conforto e solidão da minha latrina
e em cada fístula que se abre na minha alma

– talvez Deus exista.

Arqueologia nocturna,

Luís Costa

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