sou uma porta profunda, hermética, fechada a sete trancas
na obscuridade dos diademas
em cada poema que escrevo floresço como um pedaço de gelo
que arde nas mãos desta mulher, altiva como os cereais,
altiva
como o cheiro das maçãs...
sou um labirinto, um labirinto como todos os
homens, uma furna engordurada de olores ancestrais,
e amo, mas amo
com a força dos bosques, amo como uma água tribal que
dilacera
furiosamente os astros, amo como quem odeia
e digo: em cada palavra que escrevo quebro o nó górdio
e sinto o gume
da navalha no rosto dividido
como os olhos de um cavalo insano à beira da morte
então, ascendo a mim, ascendo ao conforto e solidão da minha
latrina
e em cada fístula que se abre na minha alma
– talvez Deus exista.
Arqueologia nocturna,
Luís Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário