terça-feira, 11 de junho de 2013

Luiz Felipe Leprevost

não me cansava de olhar longe, perto dava vertigem. não estava pronto para desabar da janela no asfalto liso como a pele de sapos cinzentos. tão perto, tão perto, tão perto e longe. nem sei porque estou lembrando, se é que estou. o rastro dos aromas de um cabelo. poderia voltar a me reconhecer nalgum passado? o rastro guarda o que falta, o que falta. dessemelhanças, quem dera ao menos isso tivéssemos. tudo começou com aquela ração: bolacha recheada, pacote de batata frita ou barrinha de cereal, refrigerante e suco. ao meu lado, um desses tipos velhos, cabelo e cavanhaque brancos, magro, alto. não parava de encostar a perna na minha quando cochilava e o corpo relaxava embalado pelo ronco. odeio essa gente que não sabe a idade que tem, que toma refrigerante em bicadinhas mínimas e consegue cruzar a perna feito mulher mesmo num avião e se põe a meditar sabe-se lá o que olhando psicopatamente para o chão do planeta através da janelinha enquanto a aeronave faz o pouso. foi sempre o frio o primeiro a me abraçar em Curitiba.


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