Luiz Felipe Leprevost
não me cansava de olhar
longe, perto dava vertigem. não estava pronto para desabar da janela no asfalto
liso como a pele de sapos cinzentos. tão perto, tão perto, tão perto e longe.
nem sei porque estou lembrando, se é que estou. o rastro dos aromas de um
cabelo. poderia voltar a me reconhecer nalgum passado? o rastro guarda o que
falta, o que falta. dessemelhanças, quem dera ao menos isso tivéssemos. tudo
começou com aquela ração: bolacha recheada, pacote de batata frita ou barrinha
de cereal, refrigerante e suco. ao meu lado, um desses tipos velhos, cabelo e
cavanhaque brancos, magro, alto. não parava de encostar a perna na minha quando
cochilava e o corpo relaxava embalado pelo ronco. odeio essa gente que não sabe
a idade que tem, que toma refrigerante em bicadinhas mínimas e consegue cruzar
a perna feito mulher mesmo num avião e se põe a meditar sabe-se lá o que
olhando psicopatamente para o chão do planeta através da janelinha enquanto a
aeronave faz o pouso. foi sempre o frio o primeiro a me abraçar em Curitiba.
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