Roberta Tostes Daniel
Não sei escrever. Sei respirar. Não me isento. Sobrevivo.
Com palavras, cipós, pássaros. Não tenho superfície? Tenho. E limite. Que
esgarça a pele como se fizesse dela um riso. Tudo ri, no incêndio horizontal.
As palavras se emprestam, são generosas as palavras. Infinita e traiçoeira é a
noite. Assim, como se alguém tivesse acabado de dizer. Isto que todo mundo diz:
o silêncio. O silêncio desaba. Na repetição do texto. O nome oriundo. Sem onde.
Aquilo de que é o vento. Ou os loucos de Rilke, poeta que não vai. Deixar que
outros nomes venham. Marina te beijou. Naquele poema que não bem me recordo.
Queria ouvir o seu coração. A sucessão dos desejos. Era isso que dizia o poema.
Um poema que não era um poema. Era a vida. E te beijou, Rilke, talvez achando,
como os teus loucos, que nada está perdido. Grande poeta, Tsvetáieva. Prendo-a
no meu não-texto. O que faço? Fluxo de coisa alguma. Consciente, pelas
beiradas. Arrastando a aurora. Canso, raízes me agarram feito cipó. Respiro,
não leio, quero. Hei de querer mais pássaros para a noite não finda.
Um comentário:
Plurissignificativo, forte, gostoso de ler.
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