quinta-feira, 26 de junho de 2014

A solidão

Eu venho de um outro país que o vosso.
Outro bairro, outra solidão.
Hoje como hoje, eu me crio atalhos;
eu não sou mais um de vocês,
tenho o aspecto dos mutantes; biologicamente me dou cabo
com a idéia de que sou feito da biologia: mijo, ejaculo, choro.
Antes de tudo
devemos elaborar as nossas idéias
como se fossem artefatos. Estou pronto para os moldes.
Mas ...
A Solidão...
Os moldes são de uma nova matéria, advirto,
estão fundidas desde a manhã do amanhã.
Se você não tem, deste dia o sentido relativo
da sua duração,
é inútil se atravessar
é inútil procurar
à frente de você,
porque de frente para trás, a noite é dia
mas...
A solidão...
a solidão, a solidão, a solidão !!!
Antes de tudo
as lavanderias automáticas,
aos ângulos das estradas
são impertubáveis
assim como o vermelho e o verde dos semáforos.
Patrulhas de detergente
irão declarar onde será possível
lavar isso ou aquilo que você crê.
A consciência não é outra
senão uma sucursal daquele facho
de nervos de que lhe serve o cérebro.
E portanto...
A Solidão.
O desespero é uma forma superior de crítica,
por ora nós a chamaremos ''felicidade'',
porque as palavras que vos usam
não são mais do que palavras; mas uma espécie
de condução através da qual os analfabetos têm a consciência posta.
por isso...
A solidão!
Do código civil falaremos mais
tarde. Por ora eu queria
codificar o incodificável
queria medir o poço de São Patrício
de vossas democracias.
Queria imergir no vazio absoluto
e me tornar um não dito, o não advindo, o não virgem
por defeito de lucidez. A lucidez
a tenho na roupagem
na minha roupagem!!!
__________________Léo Ferré.

[ tradução: Tullio Stefano ]

Je suis d´un autre pays que le vôtre, d´une autre quartier, d´une autre solitude.
Je m´invente aujourd´hui des chemins de traverse. Je ne suis plus de chez vous. J´attends des mutants.
Biologiquement, je m´arrange avec l´idée que je me fais de la biologie : je pisse, j´éjacule, je pleure.
Il est de toute première instance que nous façonnions nos idées comme s´il s´agissait d´objets manufacturés.
Je suis prêt à vous procurer les moules. Mais...
La solitude...
La solitude...

Les moules sont d´une texture nouvelle, je vous avertis. Ils ont été coulés demain matin.
Si vous n´avez pas, dès ce jour, le sentiment relatif de votre durée, il est inutile de vous transmettre, il est inutile de regarder devant vous car devant c´est derrière, la nuit c´est le jour. Et...
La solitude...
La solitude...
La solitude...

Il est de toute première instance que les laveries automatiques, au coin des rues, soient aussi imperturbables que les feux d´arrêt ou de voie libre.
Les flics du détersif vous indiqueront la case où il vous sera loisible de laver ce que vous croyez être votre conscience et qui n´est qu´une dépendance de l´ordinateur neurophile qui vous sert de cerveau. Et pourtant...
La solitude...
La solitude!

Le désespoir est une forme supérieure de la critique. Pour le moment, nous l´appellerons "bonheur", les mots que vous employez n´étant plus "les mots" mais une sorte de conduit à travers lequel les analphabètes se font bonne conscience. Mais...
La solitude...
La solitude...
La solitude, la solitude, la solitude...
La solitude!

Le Code Civil, nous en parlerons plus tard. Pour le moment, je voudrais codifier l´incodifiable. Je voudrais mesurer vos danaïdes démocraties. Je voudrais m´insérer dans le vide absolu et devenir le non-dit, le non-avenu, le non-vierge par manque de lucidité.
La lucidité se tient dans mon froc!
Dans mon froc!

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