Foi na praia. Uma lua enorme
nascia dentre as ondas negras.
O vento trazia o teu cheiro
junto aos teus cabelos
e a areia, sob os nossos pés descalços,
registrava um itinerário de fugas
e espantos. Não havia dúvidas nem certezas: o próprio medo
era feito de esperança. Se eu acreditasse em Deus,
exclamaria:
a terra onde pisam as palmas de meus pés é santa.
De repente, as estrelas todas
caíram do céu e nas rudes canoas dos pescadores
o mistério da vida se refez: a areia, as algas, a noite, o
brilho do farol
se fundiram numa concha branca
que eu recolhi na concha de minhas mãos em prece.
Admirei suas nervuras. Provei de seu mel,
bebi de seu vinho, surpreso de não haver desfalecido.
(A lua se erguera feito um estandarte de paz
e, na areia clara, nossas sombras azuis
lacraram um testemunho: perfeito na humanidade, perfeito na
divindade,
conforme o augusto Concílio.)
Depois foi a escuridão, o precipício. E a convicção:
quando eu morrer – numa sexta-feira às três em ponto da
tarde –
estarei pensando em você.
Otto Leopoldo Winck
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