terça-feira, 31 de março de 2015

orfanato


ser órfão é mais do que se privar de pai e mãe. ser órfão, órfão de pai e mãe, de repente, é deixar de ser filho. ou filha. isso pode parecer pouco, mas, quando, num só golpe, os corações amorosos de ex-filhos se veem assim, subitamente "desfiliados" da vida, vem uma sensação estranha. um grande susto.
é um susto que não passa rápido e, frequentemente, essas criaturas, filiais sem matrizes, vagam feito zumbis ou cometas pelo mundo, sem saber direito onde recolocar o filho amado nelas, de volta ao mundo, na órbita em que todos gravitamos, o amor.
a terra redonda, no entanto, nos ensina que a resposta está bem perto de nós mesmo, em nós mesmos, herdeiros legítimos desse sentimento difuso que, de uma hora para outra, passou a rondar sem dono o nosso peito, no vácuo mais triste do universo.
a terra nos diz que apenas uma imensa roda de perdão e de alegria poderá re-abrigar esse amor jogado no chão do orfanato. nessa roda cabem todos os filhos-não-mais-filhos, os netos-não-mais-netos, os bisnetos-não-mais-bisnetos, as noras-não-mais-noras, os genros-não-mais-genros, os amigos queridos, essa condição eterna.
quanto maior, mais firme e mais unida for essa roda, mais chance teremos de prosseguir em paz na busca do sonho para o qual nascemos todos: sermos eternamente considerados, por nós mesmos, filhos legítimos do Criador.

(marcílio godoi)

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