Na orgia dos sons, das cores,
ficou minha alma pagã;
bebendo o aroma das flores,
bebeu a luz da manhã.
Abriu-se-me a flor da vida
sob um sol fecundo e ardente;
amo a palmeira florida
e o soluçar da torrente...
Tenho taças de verdura
junto aos troncos seculares,
em que bebo a linfa pura
do néctar que vem dos ares.
Entendo o canto das aves,
que agitam o azul dos céus,
como de um templo nas naves
as litanias de Deus.
Nas clareiras escalvadas
das grandes, floridas matas,
choram frescas alvoradas
de pérolas as cascatas.
Entro altivo nas imensas
babilônias vegetais,
sob as lianas suspensas,
como arcadas triunfais.
Nas voltas da trepadeira,
leio estéticos segredos
e aprecio a sobranceira
atitude dos rochedos...
A natureza é uma mestra,
uma mestra maternal,
que nos dá lições de orquestra
e nos ensina o ideal.
Na orgia dos sons, das cores,
ficou minha alma pagã;
bebendo o aroma das flores,
bebeu a luz da manhã.
- Augusto de Lima, em "Contemporâneas". 1887.
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