Quarta-feira. Com certeza era uma quarta. Casa dos tios. Tinha uns 7 ou 8 anos. Talvez 9. Flamengo versus Grêmio era televisionado às 21 horas e 30 minutos. Fizemos um bolão. Os adultos fizeram. Claro. Deixaram palpitar. Palpitei. 2 a 1 a favor do Mengão. 2 a 1 placar final do jogo. Ganhei. Quem diria? Ganhei. E sozinho. Estava eufórico. Feliz. Sentia-me um espertalhão. Sabia mais de futebol que os místicos adultos. Então fiquei no meu canto. Impaciente. Nervoso. Vieram me cumprimentar.
- Parabéns pirralho!!!
- Uau!!!
O blá-blá-blá de sempre aos vencedores mirins. Além do mais eu era um vencedor, mesmo que temporário, no meio dos adultos.
Mas quase todos vinham me cumprimentar. Um deles, em alto e bom som dissera:
- O bobão ganhou que tá até tremendo. Mais é um bobão mesmo.
Evidente. Tremi mais ainda. Bobão? Era a primeira vez. A primeira a gente nunca esquece. Nunca esqueci.
Era uma criança. Que culpa tinha eu? De ganhar? O dinheiro não dava para ficar rico. Apenas para algumas coxinhas e refrigerantes a mais na escola.
Bobão?! Creio que se estabeleceu um marco em minha vida. Nada profundo, do qual não sobreviveria. Mas marcante. No meio de uma estonteante alegria. Rara a uma criança em confronto com os adultos. Alguém tinha de vir com esta: bobão.
Ciúmes? Ódio? Medo por não ser mais uma criança? Por uns míseros trocados?
O gosto da vitória, naquele dia, ficou amargo. Fui para casa mais triste do que feliz. Contudo, também com mais dinheiro no bolso. E olhem só. Nem precisei trabalhar por aquilo. Apenas fui mais espertalhão. Sorte? Quero acreditar que mais esperteza.
Quarta-feira. Com certeza era uma quarta. Casa dos tios. Tinha uns 7 ou 8 anos. Talvez 9. Flamengo versus Grêmio era televisionado às 21:30. Naquele dia os deuses me deram dois presentes: alegria e sabedoria. Nunca esqueci. Cresci e apareci.
Mário Auvim
Nenhum comentário:
Postar um comentário